Juremir Machado da Silva

De Paris a Raoni

Change Size Text
De Paris a Raoni Juremir e Raoni, um encontro no aeroporto em Campinas | Fotos: Arquivo pessoal

Estivemos em Paris por cinco dias. A pandemia havia interrompido minha ligação com essa cidade onde morei e da qual não me separo. É amor profundo. Gosto de ver o quanto Paris sempre muda e sempre permanece a mesma.

Paris no verão é linda demais. Uma prova disso é qualquer foto, como as que Cláudia e eu fizemos de lugares que adoramos como a pequena praça Dauphine, um triângulo de beleza atrás do Palácio da Justiça. Ali mora Yves Simon, escritor que traduzi. Ali encontramos uma vez o ator Jean-Paul Belmondo brincando com a filha. Ali se misturam turistas e locais numa boa.

Que eu gosto de Paris não é novidade. Por que gosto tanto? Por admirar o seu reconhecimento a grandes intelectuais, como Jacques Derrida, cujos cursos segui religiosamente na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais. Um gigante.

Gosto de Paris por saber que vou encontrar intelectuais com vontade de falar de coisas importantes, como no conselho editorial da revista Hermès, dirigida por Dominique Wolton no Consellho Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), com seus 60 membros, sendo 25 estrangeiros, dois dos quais brasileiros, eu e Roberto Chiachiri (UMESP).

Foto de Charlotte Gruson

Discussões que podem durar horas, sendo aliviadas por convidados inesperados para cantar música tamule.

Foto de Charlotte Gruson

Paris muda sempre. Basta pensar nos seus ônibus totalmente elétricos e nos pontos de reabastecimento para carros elétricos espalhados pela cidade.

Paris muda tanto que, enquanto reforma o Grand Palais, construiu no Campo de Março, entre a Torre Eiffel e a Escola Militar, um Grand Palais Éphémère, um provisório tão especial que vai deixar saudades certamente. Nele, a torre se vê no espelho.

Mas Paris também permanece na sua tradição, no seu amor à cultura e nos seus pequenos hotéis com placas lembrando de figuras importantes, o que se mostra por todo lado, numa profusão de memória e acontecimentos.

Tudo no mesmo simpático Hotel Delambre, no velho Montparnasse.

Paris provoca com seus escritores especializados em temas polêmicos gerando identificação ou repulsa.

Paris para mim se faz de encontros com o mestre Michel Maffesoli e sua esposa Hélène para jantar ao ar livre na frente da velha Sorbonne, onde estudei, onde Maffesoli ensinou por uma vida inteira, ensinando a dizer sim à vida.

Paris tem suas modas de verão. Restaurante a bom preço com interior esplendoroso.

Paris pulsa na Montparnasse da geração perdida americana, lugares dos anos 1920 que receberam gente como Hemingway e Scott Fitzgerald: Le Select, Dôme, La Rotonde, La Coupole.

Tudo isso e o cotidiano, as meninas de bicicleta, as mulheres de sapato alto Laboutin e transparência como se saíssem de um filme. Eis a minha paixão renovada, revivida, inflamada. Que vontade de ficar!

E aí a volta.

No aeroporto, em Campinas, um encontro emocionante com o cacique Raoni.

Lá estava ele, com a companheira e tradutora, tão frágil, tão pequeno, tão gigante.

Admiro demais esse homem. Diante dele, fiquei sem voz. Não deixei de tietá-lo.

Viagens servem para desacomodar a gente.

Paris renovou minha paixão pela cidade em movimento.

Raoni reacendeu meu amor pelo Brasil.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.