Juremir Machado da Silva

Enfim, os mandantes da morte de Marielle

Change Size Text
Enfim, os mandantes da morte de Marielle Os mandantes do assassinato de Marielle Franco chegam a Brasília. | Foto José Cruz/ Agência Brasil

Demorou seis anos, mas, enfim, a polícia chegou aos supostos mandantes do assassinato de Marielle Franco. Por que levou tanto tempo e quem são os cabeças desse crime, que ceifou também a vida de Anderson Gomes, motorista da vereadora carioca do PSol? Como o Rio de Janeiro não é deste mundo, o crime teria sido encomendado por Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, tendo Rivaldo Barbosa como apoio para melar as investigações. Eles são respectivamente conselheiro do Tribunal de Contas, deputado federal fluminense e ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Seria uma gangue instalada no coração do poder, com todas as facilidades para agir. Feito o serviço, teriam tratado de frear as investigações no âmbito local. Imaginavam ter cometido o crime perfeito: entre os implicados, o investigador.

Qual foi o motivo do assassinato? A vereadora atrapalhava a expansão territorial da milícia no Rio. Não contentes em fazer parte da elite do poder estadual, os mandantes integrariam o crime organizado estadual. Certos da impunidade, permitiriam-se executar quem se colocava como obstáculo aos seus ganhos e teriam tratado tranquilamente de inviabilizar o inquérito. O que fazer num estado em que quase todo governador vai preso e figuras do alto escalão chefiam a bandalheira? Foi preciso uma mudança de governo federal e que o caso chegasse ao Supremo Tribunal Federal para se alcançar o seu desvendamento. Antes disso só se perdeu tempo e escondeu o jogo.

No Rio de Janeiro se pode dizer sem medo de errar: o território da máfia é aqui. Só com a ação conjunta da Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e do Ministério Público do Rio de Janeiro é que se deflagrou a operação que levou neste domingo, 24 de março, os graúdos do assassinato de Marielle à prisão. Os engravatados certamente estavam convencidos de que não seriam pegos e punidos pela morte de uma mulher negra, pobre e lésbica. A maré virou. Até então era deixar o tempo passar, fazer corpo mole, confundir a opinião pública e fazer cara de paisagem. Marcelo Freixo, ex-deputado federal do Rio de Janeiro pelo PSol, cravou uma verdade: no Rio, crime, política e polícia andam de mãos dadas. Uma parte do território do Rio de Janeiro vive fora do controle estatal. As milícias é que comandam.

Duro é saber que elas podem comandar de dentro dos gabinetes acarpetados do poder oficial.

Ainda não acabou. Possivelmente surgirão mais nomes envolvidos. No Brasil, o crime vem de onde, em princípio, não se deveria esperar, mas isso não surpreende quem quer que seja. Marielle e Anderson morreram pela simples razão de que estavam do lado certo, ou seja, do lado errado em relação ao jogo sujo dos que se apropriam de dispositivos da engrenagem pública para ganhar muito dinheiro. Nada os satisfaz. Cheios de privilégios legais, querem também as vantagens ilegais. Só aplicar a lei não lhes basta. Tratam de fazer a lei. Não que legislem, nem mesmo quando são deputados, pois o que interessa é a lei do mais forte, mais malandro, mais cínico, mais canalha. Como a lei da máfia é a lei da irmandade do crime, não espanta que dois irmãos de sangue estejam no mesmo saco. Demorou. Mas, enfim, saiu.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.