Juremir Machado da Silva

Golpe de 1º de abril de 1964

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Golpe de 1º de abril de 1964 Tanques em frente ao Congresso Nacional após o golpe de 1964 | Arquivo Público do DF

Foi num 1º de abril que tudo aconteceu. Há 60 anos. O general Olímpio Mourão Filho, que se considerava uma “vaca fardada”, saiu de Juiz de Fora com a sua tropa para depor João Goulart. Os Estados Unidos apoiavam o golpe como se saberia com as revelações da Operação Brother Sam. O apoio era ao general Castelo Branco. Mourão achou que a coisa está demorando e abriu a porteira. A imprensa brasileira, com exceção do jornal Última Hora, de Samuel Wainer, criador sob influência de Getúlio Vargas, preparou o terreno para a derrubada de Jango. De Carlos Drummond de Andrade e a Antônio Callado, passando por Carlos Heitor Cony e Alberto Dines, todo mundo derrubou João Goulart.

O jornal O Estado de São Paulo teve Júlio de Mesquita como um dos artífices do plano golpista. O Jornal do Brasil, dirigido por Dines, esteve sempre na linha de frente do golpismo. O Globo colaborou com a queda de Jango de modo entusiástico, vendo na ruptura institucional um retorno da democracia. A Folha de São Paulo manteria longa colaboração com a ditadura, o que se consagraria no triste episódio do empréstimo das suas camionetes Veraneio para o transporte de presos políticos com destino aos subterrâneos da tortura. Os jornais regionais seguiram a mesma batida. Só Zero Hora não apoiou o golpe, pois ainda não existia. Surgiu em maio de 1964 já abertamente favorável ao regime militar. A imprensa chafurdou na lama do golpe.

O golpe de 1º de abril convenceu os tolos de que defendia a Constituição, a liberdade, a democracia e o Estado de direito. As classes médias urbanas, convencidas de que o comunismo estava na volta da esquina, deu seu aval para a aventura, que se estenderia até 1989, quando se voltou a eleger pela via direta um presidente da República. Nas suas mais de duas décadas de ditadura, o regime fardado matou, torturou, cassou mandatos, censurou, prendeu e arrebentou vidas. A corrupção correu solta e só não foi conhecida de todos por não poder ser divulgada pelos jornais, salvos exceções e bloqueios furados.

No exílio, Jango não precisava de ajuda nem de relatórios americanos para lembrar dos primeiros 441 cassados, dos três ex-presidentes da República destituídos dos seus direitos políticos, sendo ele o primeiro, dos seis governadores, dos 55 deputados federais, dos intelectuais, dos líderes sindicais, dos homens comuns repentinamente vitimados por um Estado separado do direito e dominado pela direita, não precisava do americano John Fuster Dulles para saber que até 9 de outubro de 1964, com Castelo Branco ainda se ajeitando na cadeira que lhe roubara, sobrevieram 4.454 aposentadorias forçadas, 1.408 demissões do serviço público, 2.985 punidos. Era só o começo.

O historiador e militante Jacob Gorender, citado por Carlos Fico, sintetizou o horror do regime em números aproximados: “Com os dados hoje disponíveis, pode-se estimar que cerca de cinquenta mil pessoas tiveram, no período ditatorial, a experiência traumática da passagem pelos ‘porões’ e, destas, não menos de vinte mil foram submetidas à violência da tortura. Nos cerca de oitocentos processos por crimes contra a segurança nacional, e encaminhados à Justiça Militar, figuraram onze mil indiciados e oito mil acusados, resultando em alguns milhares de condenações”. Um lado foi duramente punido.

O outro, o dos torturadores, jamais foi molestado.

Os bobos de 1º de abril sonham com novo golpe.

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