Juremir Machado da Silva

Indígenas querem crédito para plantar

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Indígenas querem crédito para plantar Zaqueu Kaingang | Foto: Flávio Dutra/UFRGS/Acervo 2013

A Funai assinava cartas de anuência para que famílias indígenas pudessem recorrer ao crédito rural em busca de recursos para cultivar as suas terras. O governo de Jair Bolsonaro bloqueou essa via. A Funai não pode mais assinar esses documentos. Zaqueu Kaingang vive com a sua família na Terra Indígena Guarita, setor São João do Irapuã, em Redentora, no Rio Grande do Sul. Mestre em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele cultiva 50 hectares de terra e precisa de R$ 80 mil para bancar a produção. Não está conseguindo.

– A gente planta para comer. Antes, quando a Funai assinava a carta de anuência, se conseguia crédito. Agora, ficamos dependendo de créditos de cooperativas. Algumas famílias conseguem. Outras, não.

Zaqueu já plantou o trigo. Ainda espera crédito para continuar com os demais cultivos. A reserva onde vive tem 23 mil hectares. Em torno de oito a dez mil hectares são plantados a cada ano.

– O resto é mato ainda – explica. – Precisamos de dinheiro para as máquinas, fertilizante, manutenção e outras coisas necessária. Já falei com deputados governistas em busca de ajuda. A nossa terra formalmente é da União. Se ela não assina, ficamos sem ter créditos.

Articulado, Zaqueu já esteve em Brasília em busca de respostas para a demanda pela qual luta. Já conversou com o deputado Marcon (PT) e com o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Edegar Pretto, atual presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Tenta contato com o ministro Paulo Pimenta.

Édison Húttner coordena o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi/PUCRS). Ele conhece as lutas de Zaqueu desde muito tempo. Defende que o atual governo precisa tomar alguma providência.

– O Neabi vai criar uma comissão para ver alternativas para essa demanda dos indígenas. Isso que está acontecendo não é justo com os indígenas que querem plantar e aumentar sua produção e colheita.

Irmão marista, Hüttner tem histórica na defesa dos indígenas:

– O banco ao qual os indígenas encaminham o crédito rural pede a matrícula da terra. Como eles não tem essa matrícula, o banco pede a anuência da União. Só que a Funai não quer fazer. O banco quer uma garantia de quem vai pagar. As terras, porém, não estão no nome dos indígenas. Estão no nome da União. Então o banco não quer financiar a compra de implementos agrícolas para os indígenas. Depois dizem que índio não quer trabalhar. É o momento de refletir sobre isso.

A pergunta de Hütner fica ressoando no ar:

– A sociedade precisa saber disso. Por que os índios não podem ter créditos agrícolas. Isso é uma coisa que realmente não é justo com eles. Precisamos de alternativas, algum decreto especial…

Zaqueu ainda tem esperanças:

– Deve existir uma solução. Queremos trabalhar.

Essa é mais uma herança do desastroso governo do capitão Jair Bolsonaro, o presidente que mais trabalhou contra os interesses dos povos originários brasileiros. Bolsonaro foi o presidente do garimpo. Está mais do que na hora de o presidente Lula entrar nesse jogo.

Alguma instituição do RS pode ajudar?

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