Juremir Machado da Silva

A escolha de Anitta e Voldemort

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A escolha de Anitta e Voldemort Foto: Jacob Webster/Divulgação

A cantora Anitta é superpoderosa. Ninguém manda mais do que ela no Brasil atual. Anitta é famosa nas redes sociais e fora delas. Brilha no exterior. É inteligente, talentosa e bonita. Pode-se não gostar do tipo de música que ela faz, mas não se pode negar o seu imenso sucesso na pegada do ar do tempo. Pois ela fez a sua escolha: Lula. Vale dizer que ela fez questão de lembrar o fato de nunca ter sido petista. Não faz muito tempo, Anitta era cobrada por não se posicionar politicamente. Agora, a moça de Honório Gurgel está com Lula e quer fazê-lo bombar nas suas redes sociais, que andam pelos cem milhões de seguidores. Os bolsonaristas ficaram mortos de inveja. Eles têm os seus sertanejos, como Gustavo Lima, para chamar de seus.

Por que Anitta está com Lula? Pelo simples fato de que ela quer democracia, paz, arte e respeito a diversidade. O bolsonarismo tem plantado ódio e colhido violência. O assassinato de um petista em Foz do Iguaçu por um bolsonarista enfurecido mostra que Anitta tem razão. É preciso mudar de registro. O assassino foi à festa do petista para provocá-lo com bordões de direita. Gritou “Bolsonaro mito” e outras sandices do gênero. A delegada responsável pelo caso, porém, acha que não houve motivação política na agressão. Tá bom, a motivação não foi política, foi ideológica. Estamos conversados. Um torcedor agride o outro na saída do jogo, ambos fardados com as camisetas dos seus clubes, e a conclusão é que o futebol nada teve a ver no caso.

O Brasil está no fundo do poço. Anitta sabe que, com sua força junto a um público imenso e jovem, tem obrigação de se manifestar. Ela pode ajudar a salvar o país da tragédia em que uma associação bizarra entre mercado, evangélicos, agronegócio, sertanejos e parte da mídia o meteu. Juntou-se a ganância com o negacionismo e produziu-se um monstrengo. É incrível como o tal do mercado pode escolher mal. Falta-lhe coerência e visão de futuro: vai da direita à esquerda sem a menor cerimônia amparado na conversa fiada do fim das ideologias. O mercado é pura ideologia. Tapa o sol com peneira, deformando realidades, e expressa a sua defesa ideológica de um mundo dominado pelo dinheiro.

Escrevo isso e já imagino um bronco de dedo em riste me chamando de comunista. Há um universo inteiro entre o comunismo e o capitalismo selvagem que não entra no cérebro comprimido de um bolsonarista raiz e passa longe dos indivíduos formatados pela ideologia do mercado. Annita compreendeu o jogo. Ela anda por aí, encontra meio mundo, viaja, ouve, aprende, ensina. Versátil, enxerga melhor os problemas do Brasil do que Paulo Guedes, o aprendiz de feiticeiro neoliberal no Chile totalitário de Pinochet, que vive na sua bolha de milionários alienados. Anitta não tem as viseiras dos militares nem as crenças dos pastores do capitão. Conhece a periferia e o centro. A extrema direita uiva, Anitta passa, dança, desfila, livre, leve, linda e solta. Eu não sou comunista, nunca fui petista, estou com Anitta. Como não estar?

Contra Voldemort

Eis o recado da Anitta: “Atenção candidatos do PT, atenção partido PT. Eu não sou uma apoiadora do PT e não sou petista. Não autorizo o uso da minha imagem para promover este partido e seus candidatos. Minha escolha nessas eleições foi de trazer engajamento e mídia para a pessoa que tem maior chances de vencer Voldemort nessas eleições. Depois de muitas pesquisas a conclusão é de que essa pessoa é o Lula. E o que vou fazer daqui em diante é usar minhas plataformas no que eu puder ajudar para trazer mais visibilidade a ele com a propósito de não termos novamente Voldemort na presidência.”

Bolsonaro só repercutiu as três primeiras linhas da mensagem.

É o que se chama de só ver o que lhe interessa.

Vulgo manipular a informação.

A colunista do UOL Milly Lacombe bem traduziu a mensagem da Anitta: “É uma lógica que ela defende desde sempre em sua carreira: se eu desejar, coloco a minha bunda na sua cara. Mas, sem meu consentimento, você não coloca a sua cara na minha bunda”.

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