Juremir Machado da Silva

Cem dias de Lula 3

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Cem dias de Lula 3 Foto: Ricardo Stuckert / Palácio do Planalto

E assim se passaram cem dias sem Jair Bolsonaro. Cem dias com Lula no poder. Terceiro mandato de um homem de biografia improvável. Há quem esteja descontente. O escritor “suíço” Paulo Coelho já se diz meio arrependido do seu voto e do seu empenho. Acha o governo bege. O mercador João Amoêdo, que votou em Lula para barrar o capitão de malícias e joias, não está contente, mas garante que nada esperava. De Amoêdo também não se esperava que fosse além de ganhar dinheiro na roleta. Até que ele deu muito. Afinal, está bom ou ruim o governo Lula 3? A distância do obscurantismo, do negacionismo, de joias árabes e de declarações muares já dão aos cem dias de Lula um selo de qualidade.

O novo controle de gastos, chamado de “arcabouço fiscal”, demorou, mas saiu. Muito melhor do que a encomenda. O Ministério da Educação deu um tranco na reforma do Ensino Médio, a pior que se inventou desde a Couto Ferraz, de 1854, que proibia a matrícula de escravizados. Serão dois meses de moratória para reflexão e estudo. O governo retomou programas como Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família e PAC, ainda não rebatizado nem esmiuçado. Lula quer que se olhe para o futuro. O passado também importa. O ministro Carlos Lupi tentou mexer na reforma da Previdência. Tomou um pito. Essa, depois que passa, não recua. Falta rever a reforma trabalhista.

Por enquanto, a civilidade agradece. Lula andou escorregando na própria língua ao supor que Sérgio Moro teria armado uma ameaça de atentado a ele mesmo. Desconfiar de Moro não era inverossímil, mas contraproducente. Lula deveria ter comemorado o trabalho da Polícia Federal e declarado solenemente que no seu governo até a vida dos seus desafetos é protegida. Humano, demasiadamente humano, falou com o fígado. Quem nunca? Ainda mais depois de ter passado mais de 500 dias na prisão por obra de uma decisão que para muito juristas nunca se amparou em provas e teve a assinatura de um juiz declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal. Nos próximos três anos e nove meses, melhor esquecer Moro e sua tropa parlamentar de extrema direita.

Lula patina na questão da Ucrânia. Quase não esconde a simpatia da esquerda brasileira por Putin. A política internacional do Brasil, porém, voltou a ser de primeira classe. A ida à China colocará, mais uma vez, Lula entre os grandes deste mundo. Nos Encontros do Sul, em Porto Alegre, ele seria chamado, com ressalvas à sua visão econômica, de “player” ou até de “Big Player”. Brincadeiras à parte, a civilidade agradece a Lula por seus primeiros noventa dias sem insultos, coices e estupidez. Lula brigou com o Banco Central por causa das taxas de juro? Com toda razão. Não gosta da independência do Banco Central? Faz muito bem. Não entende do riscado? Neste caso, Joseph Stiglitz, Nobel da economia, também não. Paulo Krugman, outro Nobel, tampouco.

O Brasil ainda não se decolou como se espera. Em três meses, convenhamos, não dá para alçar voo. É urgente cuidar da Amazônia, que continua sendo devastada. E rever a grande destruição provocada pelo liberou geral da reforma da legislação trabalhista. Coragem, Lula.

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