Juremir Machado da Silva

E não tinha corrupção no governo

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E não tinha corrupção no governo Foto: Isac Nóbrega / PR

Jair Bolsonaro adora dizer que no seu governo não teve corrupção. Talvez ele tenha uma definição muito particular de corrupção, separando-a de outras bandalheiras pelas quais o patrimônio público é apropriado. As recentes ações da Polícia Federal indicam que funcionava no coração do poder uma operação para vender joias dadas, em geral, por árabes ao presidente da República e que deveriam ser incorporadas aos bens nacionais. Claro que o principal interessado já acionou o “não tenho nada com isso”, “nunca fizemos tal coisa”, “não sei de nada” e outros mecanismos de negação. De resto, negar sempre foi a marca de um governo e de um governo negacionista, o que ficou comprovado pelas diversas tentativas de negar a importância do coronavírus e o valor das vacinas para deter os estragos da covid-19.

Um áudio com uma conversa de Mauro Cid, ajudante de ordens e faz-tudo de Bolsonaro, poderá entrar para a história pela crueza: “Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. E aí, ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas, também pode depositar na conta. Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?”

Essa turma de trapalhões produz memes típicos da estupidez natural. Por exemplo, o reflexo do general Mauro Lourena Cid, pai Mauro Cid, estafeta de Jair Bolsonaro, numa foto usada para negociar joias que deveriam ser baixadas ao acervo nacional. Quando a turma vendeu rapidamente um Rolex e o Tribunal de Contas da União mandou catalogar o mimo entre os bens da nação, foi preciso recomprar a peça. O cerco se fecha, a lama sobe, a decepção dos incautos aumenta, a perplexidade cresce. Esta afirmação de um assessor, falando sobre presentes de valor recebidos em viagens, poderá servir um dia de epitáfio a um governo ou às ilusões dos mais empedernidos:

“Porque já sumiu um que foi com a dona Michelle.”


Tambor tribal (Oito meses de governo Lula)

E assim se passaram quase oito meses do retorno de Lula ao poder. Até agora o barco não afundou como previam os mais assustados e os mais afetados nos seus interesses imediatos. Há avanços. E há erros. Os dois erros mais brutais continuam sendo o viés pró-Rússia de Lula no que se refere à guerra na Ucrânia e a instalação de Cristiano Zanin, advogado pessoal do presidente da República durante a sua travessia do deserto, como ministro do Supremo Tribunal Federal. Tornou-se moeda corrente cada presidente mandar para o STF seus prepostos. Michel Temer promoveu o seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, à suprema corte. Jair Bolsonaro deu guarida ao seu amigo do peito André Mendonça. Lula seguiu a toada e empregou Cristiano Zanin.


Parêntese da semana

“Parêntese #187: Cultura para quem se importa”. Luísa Kiefer situa: “Nessa edição, temos algumas comemorações para fazer: parabéns ao nosso querido colunista José Falero, que esteve de aniversário essa semana, e nossas melhores saudações ao recém-eleito patrono da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre, o escritor e cineasta Tabajara Ruas. Também queremos compartilhar com as leitoras e leitores que a Matinal está de cara nova!” Tem estreia: “Em dez capítulos, Fernanda Grabauska nos conduzirá por um programa de rádio transmitido em um cenário pós-apocalíptico”. Mais: “Também começa hoje a série de Oly Jr., na qual o autor narra suas memórias sobre o martírio juvenil de quase ter sido um jogador de futebol profissional”. É isso é mais muito texto bom.


Frase do Noites

Leitor de Karl Kraus (1874-1936), o iluminista discorda do grande frasista, que dizia: “O progresso técnico deixará apenas um problema: a fragilidade da natureza humana”. Para Noites, a verdade é clara como o dia sem poluição: o avanço da técnica deixará apenas uma prova: a impossibilidade do progresso da natureza humana.


Imagens e imaginários

No Pensando Bem, que vai ao ar todo sábado na FM Cultura, 107,7, numa parceria da Cubo Play com Matinal e revista Parêntese, Nando Gross, Luís Augusto Fischer e eu conversamos com o ator gaúcho Werner Schünemann, que estreou o monólogo “O espantalho”, no Theatro São Pedro, dirigido por Bob Bahlis, e lançou no ano passado o romance “Alice deve estar viva” (Almedina). Werner fala de seu amor por Porto Alegre, de fama, literatura, teatro, cinema e televisão. Delicioso.


Escuta essa

Nesta semana tem o espetacular Caetano Veloso em Porto Alegre. Então, solta a voz “menino do Rio”, quer dizer, da Bahia:

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