Juremir Machado da Silva

Emily em Paris

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Emily em Paris Foto: Netflix/Divulgação

O interminável período de recesso de fim de ano, que pode ser curto ou longo de acordo com as expectativas de cada um, obriga a recorrer a métodos fortes de distração. Séries leves da Netflix, ainda mais em tempos pesados de golpismo, mortes de Pelé e de Bento XVI, funcionam como um bom remédio para baixar a febre. Vi a terceira temporada de “Emily em Paris”, com Lily Collins. Não deve ser fácil para os franceses acompanhar uma novela em que a americana ganha sempre por ser mais esperta, mais moderna, mais ágil e mais cool.

Oui, Emily é apresentada como tudo isso e mais um pouco. Nenhum nome francês é pronunciado como oxítona, mas como se fosse inglês. Sylvie e não Sylvie. Bem, é uma série americana sobre uma americana em Paris, numa agência de marketing de moda, onde todos concorrem com todos e tudo é motivo para classificações sociais. Que a americana dê lições de moda aos franceses talvez agrave a situação. Sei, não. A terceira temporada caprichou nas tomadas com imagens turísticas de Paris. Afinal, é o principal atrativo do produto. De resto, vendida como comédia romântica, funciona bem como um divertido, mas nem sempre, besteirol, desses que os chamados novos comediantes gostam de estrelar. Nada é muito sério nem muito verossímil. Faz sentido.

Bom é que os capítulos são curtos, em torno de meia hora, e dispensam grandes reflexões. O resultado é positivo: a pressão se estabiliza, os batimentos cardíacos ficam na média, o pensamento larga as obsessões e a alma se acalma. Então é uma baita pedida? Se a ideia for não pensar em nada e rir de tudo, sim. O perigo é começar a fazer comparações com o besteirol brasileiro em voga. Fica parecendo alta cultura. Danilo Gentilli, que se achava engraçado, com aquela grossura que o caracteriza, é de chorar perto dessa singela comédia. Nem vou falar nos outros para não provocar crises de animosidade.

A comédia brasileira atual lembra a seleção do Tite: todo mundo se acha craque, mas na hora de mostrar o que tem para balançar o espectador, dá traque. Emily é moderníssima, seus looks são hipermodernos, Paris é uma festa permanente com champanha, luxo e muito sexo. Ninguém é de ninguém todo tempo. Ou por muito tempo.  Depois, quando vem a dor de cabeça, todos voltam para suas bases. Estou falando disso por ter tomado uma exaustão de coisas sérias, de política em alta voltagem, o bem contra o mal, etc. Tenho muito respeito por este último, que normalmente nos salva de continuar. Sempre quis escrever um volumoso romance com este título: Etc.

Vi também a última temporada de The Crown. O novo Charles me desconcertou. Comento outro dia. Não temos pressa. O ano só está começando. Também falarei das minhas leituras de verão. Começo de ano não existe sem promessas de bom comportamento. A melhor promessa que ouvi, ou li, até agora é que Jair Bolsonaro não tem hora para voltar dos Estados Unidos. Que fique na Disney. Quem pode não estar contente com isso é o Pateta. Não deve ser fácil suportar a concorrência.

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