Juremir Machado da Silva

Estado à venda

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Estado à venda Foto: Divulgação / Corsan
Não sou estatista, nunca fui marxista, não defendo qualquer forma de comunismo. Sou socialdemocrata e admiro a Suécia. Pronto, falei. Constato: o Rio Grande do Sul vai continuar privatizando o que tem. O governador Eduardo Leite, reeleito com apoio da esquerda, que faria qualquer coisa para não ver Onyx Lorenzoni instalado no Piratini, não prometeu mudar o seu programa nem sua ideologia. Ainda em dezembro serão leiloados o Jardim Botânico, a Corsan e o Cais Mauá. Segundo o pessoal da autoajuda é preciso procurar o lado bom de tudo. No caso, tudo indica que os debates sobre privatizações, sob a forma de concessões por tempo determinado, vão acabar. Não se falará mais nisso. Os conflitos vão desaparecer. Por que mesmo? Não haverá mais nada a oferecer. Como não?

E o Banrisul? É questão de tempo. A privatização da água na Europa deu com os burros nos esgotos. Houve recuos. Paris, Berlim e outras 265 cidades voltaram atrás. O Rio Grande do Sul pretende ser o último baluarte do velho e carcomido neoliberalismo. No Brasil, há dois tipos de neoliberalismo: o tosco e ruidoso, do guedismo-bolsonarismo, e o mais discreto, que não levanta a voz, do tucano-emedebismo. Leite tem pressa em liquidar o assunto. O neobolsonarista Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre, também quer afundar logo os seus navios, concedendo o Dmae.

Os processos de concessão costumam seguir um padrão operacional e discursivo: sucateia, promove a ideia de que só a iniciativa privada salva, promete preço mais baixos, aprova concessão, gasta dinheiro para recuperar parte do sucateado, ou ninguém compra, passa adiante e deixa acontecer. Muitas vezes, os preços aumentam e a concessionária pede aditivo por considerar que os lucros não estão à altura do esperado. O que se vai fazer quando não houver nada mais para privatizar ou conceder?

Sugiro que se privatize o Palácio Piratini e a Prefeitura. A iniciativa privada, seguindo o receituário conhecido, certamente saberá explorar melhor esses prédios históricos fazendo com que deixem de ser deficitários. Imagino um café pós-moderno no salão Negrinho do Pastoreio. O Paço Municipal poderia ter academia de ginástico e pilates. Outra ideia é, em lugar de eleições, uma licitação para contratação, por quatro anos, de executivo apto a conduzir governos municipal e estadual. Uma terceirização. Tudo com base em currículo, mérito e desempenho.

No Brasil, Estado é sinônimo de velharia. Na Europa, equivale a modernidade e sociedade atuante. Aqui, o marketing malandro esmaga qualquer defesa da participação estatal no cotidiano das pessoas como anacronismo, teta e corporativismo. A vulgata diz que Estado nunca funciona. Como explicar que Alemanha, França e países escandinavos, com forte atuação pública, sejam tão desenvolvidos e eficientes. O neoliberal raiz garante que, com menos Estado, seriam ainda melhores. É questão de fé. O neoliberalismo de bombacha será o último farol da escuridão.

Continua...

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