Juremir Machado da Silva

Guerra é guerra, dizia o eleitor

Change Size Text
Guerra é guerra, dizia o eleitor Foto: Mauricio Tonetto/Divulgação

O Brasil está em guerra, virtual e presencial. Bolsonaristas já mataram dois petistas. Um petista matou um bolsonarista. O Brasil está em guerra franca nas redes sociais e nas ruas. Bolsonaristas acusam Lula de todas as falsidades imagináveis. Dizem que, se eleito, ele vai liberar o aborto, colocar banheiros unissex nas escolas e governar aliado com o diabo, por ser praticante de satanismo. A esquerda reagiu divulgando vídeos antigos em que Jair Bolsonaro aparece na maçonaria, defendendo o aborto como opção do casal ou dizendo que só não comeu carne de índio por falta de companhia. Guerra é guerra, diz o eleitor.

Recebi um áudio hilário em que um bolsonarista diz a seus amigos de WhatsApp que a contagem dos votos estava sendo fraudada, na sala secreta do STF, para dar a vitória a Lula nos últimos minutos da apuração. Hackers russos mancomunados com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, estariam comandando a operação. A cada um ponto percentual, meio seria atribuído a Lula. Foi aí que o exército teria invadido o local, flagrado Moraes e os hackers russos com a boca na botija e a mão nos votos. Graças a essa intervenção, o Brasil teria sido salvo de uma vitória petista prematura. A prova de que isso aconteceu podia ser conferida na televisão: enquanto todo mundo olhava a Jovem Pan (assim mesmo), na abandonada Globonews os comentarias exibiam cara de velório. Uau! No segundo turno, ao menos, dizia o narrador, não haverá fraude, pois o exército tomará a sala secreta desde o primeiro segundo da apuração.

Minhas perguntas inocentes ficaram sem respostas: por que o exército não prendeu Alexandre de Moraes? Por que não denunciou tudo? Os hackers russos não deveriam ser bolsonaristas? Por que deixaram Bolsonaro liderar até 70% da contagem dos votos? Desde quando todo mundo olha a Jovem Pan? Por que a cara dos comentaristas da Globonews seria prova de que a fraude naufragara? Como foi possível o exército invadir o TSE sem ninguém ver? Foram só um cabo e um soldado? Ninguém viu o jipe? Os hackers russos não deveriam estar lutando na Ucrânia para honrar o nome do grande líder, o tzar Vladimir Putin? Por que os hackers russos não usaram discos voadores para chegar a Brasília?

O que isso significa de verdade? Por enquanto, que os ataques bolsonaristas usam mentiras escancaradas enquanto os da esquerda requentam velhas histórias verdadeiras, mas passíveis de várias interpretações em função do contexto. Em meio ao tiroteio, Bolsonaro e Lula buscam alianças. É covardia. Bolsonaro tem Ratinho, Ibaneis Rocha e Rodrigo Garcia. Lula tem Fernando Henrique Cardoso, Simone Tebet, o PDT (Ciro Gomes continua submerso), Pedro Malan e Armínio Fraga. O velho PSDB ergue a cabeça e defende a democracia, que sabe estar ameaçada. Os tucanos mais novos revelam-se bolsonaristas de carteirinha, como o cacique Lucas Redecker no Rio Grande do Sul.

Nesta semana, Lula e Bolsonaro resolveram encontrar o homem que acha que pode decidir a eleição com o seu carisma e o seu poder de influência: o gigantesco José Luís Datena. Com licença que vou ali rir e já volto. Toda eleição, Datena faz que vai, mas, para felicidade dos racionais, não vai. Fica no seu programa intragável. O mais provável é que Datena fique neutro e tire férias. As duas coisas contribuem para a melhoria da qualidade de vida no país. Todo mundo está escolhendo seu lado. Ciro Gomes, que diminuiu na eleição a ponto de desaparecer, apoiará Lula sem citar o seu nome. Simone Tebet, para tristeza dos mais oportunistas, mostrou grandeza. Para ela, não pode haver omissão. Soraya já voltou para os braços do bolsonarismo agrário, embora se declare neutra. E…

E Eduardo Leite o que vai fazer?

Tentar ganhar apoiando Lula ou perder em cima do muro?

Se não escolher lado, confirmará a leitura que dele faz o petista raiz, para quem ele não difere muito de Onyx Lorenzoni.

O velho FHC foi mais rápido na escolha.

Leite não pode se perder nos cálculos.

A eleição é no final do mês.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.