Juremir Machado da Silva

Marina em seu Ambiente

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Marina em seu Ambiente Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Depois de 14 anos, Marina Silva voltou a comandar o Ministério do Meio Ambiente, renomeado Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. Ela venceu uma quebra de braço para não ter de dividir o seu quinhão com Simone Tebet, que foi para o Planejamento. O retorno de Marina Silva vale como a contratação de Mbappé por um clube de futebol. Na equipe de Lula, Marina é o nome mais internacionalizado.

No seu discurso de posse, ela foi logo ao que interessa, com ironia e firmeza: “Boiadas se passaram no lugar onde deveriam passar apenas políticas de proteção ambiental. O estrago só não foi maior porque as organizações da sociedade, os servidores públicos, vários parlamentares, o Ministério Público e a alta corte do poder judiciário se somaram em defesa do meio ambiente”. Vai criar a Secretaria Extraordinária do Combate ao Desmatamento. Marina encarna a modernidade absoluta em termos da proteção à natureza. A participação dela no governo dá um selo de qualidade e credibilidade ambiental.

A turma de Jair Bolsonaro, na imensa cupidez que a caracterizava, não conseguiu entender por um minuto que o principal atrativo brasileiro para o mundo é a Amazônia. Protegê-la significa abrir janelas e portas para relações internacionais. O ministério de Lula é uma incubadora de presidenciáveis. Fernando Haddad, na Fazenda, é o protegido do chefe, a aposta do presidente para a sucessão, se o próprio Lula não decidir ou não puder disputar mais um mandato. Simone Tebet, por não ser do PT, corre por fora. Mas saiu da última eleição cacifada para novos voos. A Fazenda e o Planejamento, ainda mais com um desenvolvimentista e uma liberal no comando, são desafios imensos. Quem chegar ao fim dos quatro anos nessas pastas com popularidade torna-se um presidenciável habilitado a atrair eleitores. Marina Silva, por seu turno, dirige o ministério mais visível de todos.

Se fizer o trabalho que se imagina e espera, dará um salto gigantesco para voltar a ser presidenciável. Aí o leitor diz, o governo só está começando e o cara já fala das próximas eleições. O próprio Lula pensou nisso ao definir a equipe, com Haddad na Fazenda. O jogo do futuro começa no primeiro dia de governo. Quem pode descartar uma volta de Marina ao PT? Ecologista, defensora da Amazônia, estrela internacional, evangélica, ela poderia ser a primeira mulher negra a presidir o Brasil. Trunfos simbólicos não lhe faltam. Tampouco competência. Resta saber como suportará os trancos que o dia a dia da gestão distribui gratuitamente. O mundo espera que o Brasil diminua de modo consistente o desmatamento da Amazônia.

Até o ministro da Agricultura, Carlos Fávero (PSD-MT), pertencente ao clube do agronegócio, já entendeu que a defesa do meio ambiente é o melhor capital para quem quer fazer negócios com o exterior. Só as antas do bolsonarismo se recusaram a entender o tempo em que vivem. Talvez alguém prefira outro verbo. À vontade. A política do futuro será ecológica ou não será. Lula, com Marina, larga bem.

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