Juremir Machado da Silva

Ministério de Lula e recados de Bolsonaro

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Ministério de Lula e recados de Bolsonaro

     Hora de recolocar o trem nos trilhos. O ministério de Lula está quase formado. Marina Silva ficará com a pasta do Meio Ambiente. Qualquer outra solução seria uma desfeita e um erro como colocar Messi de zagueiro. Resta encontrar um bom lugar para Simone Tebet. Deixá-la fora do time seria uma indelicadeza e uma demonstração de falta de tato político. Lula foi eleito por uma frente. O seu governo precisa refletir essa geometria. Tebet ficaria bem no ministério das Cidades. Há outros interessados, inclusive do partido da senadora, o velho MDB de guerra.

     Tudo indica que um gaúcho estará no primeiro escalão do governo Lula: Paulo Pimenta. O deputado federal reeleito vai comandar a SECOM, com status de ministério. Pimenta é fiel entre os fiéis e jamais abandonou Lula durante a prisão do presidente em Curitiba. Vencidos os obstáculos da PEC do Bolso Família – que a velha mídia passou a chamar de “PEC da gastança” depois de ter aliviado os estouros da boiada de Bolsonaro –, Lula, de bem com o STF, pode começar com o pé direito, quer dizer, com o pé esquerdo, que é bom.

     Enquanto isso, Jair Bolsonaro termina silencioso o seu desastrado mandato. Silencioso, mas emitindo sinais, recados, mensagens. O seu indulto de Natal, fabricado para contemplar os assassinos do massacre do Carandiru, diz literalmente ao país o que ele pensa: os militares envolvidos na chacina deveriam ter sido condecorados.

Lembra do Guma?

     Houve uma época em que eu criava personagens e implicava com a RBS. Era uma mistura de humor com pegação de pé. Só para encher o saco mesmo. Releio essas crônicas e rio. Adaptei a que segue para mostrar ao leitor como eu escrevia em 2012. Troquei algum nome para evitar injustiças retrospectivas. Acrescentei outro para dar atualidade e ritmo. Por essas implicâncias, paguei com o ostracismo. Agora é tarde para apagar o passado. Computadores não nos dão direito ao autoesquecimento. Na verdade, nada tenho contra a RBS, onde vivi alguns anos felizes. Tivemos um caso. Acabou faz tempos. Seguimos.

*

Escrevo hoje sobre o fim do mundo porque amanhã poderá ser tarde. Tudo tem o seu tempo. O fim do mundo não marca hora. Liguei para Palomas. Falei com Guma, o oráculo, o bruxo que só prevê o previsível. Quis saber se ele tinha alguma previsão segura e exclusiva. A ligação de celular caiu oito vezes.

Tivemos uma conversa clara.

– Oi?

– Hã?

– Teu chip é da Vivo?

– Claro.

– Até a Tim pega melhor aqui.

– Essas operadoras de telefone são o fim do mundo.

– Isso vai acabar.

– Então, Guma, o mundo termina nesta sexta-feira?

– Acho que não.

– Acha ou tem certeza?

– Não vi nenhuma chamada na Rede Baita Sol.

– O que isso significa?

– Ora, qualquer um sabe o significado disso. Que não acaba ou que eles ainda não conseguiram patrocinador.

– Que conversa é essa?

– Sem patrocinador, vai atrasar.

– Fala sério, Guma.

– Nunca falei tão sério nesta minha longa e macanuda existência, tchê. Faltam outros detalhes. Por exemplo, o cachê da estrela Lady Gaga. A Rede Baita Sol quer Lady Gaga, Kleiton e Kledir e Casemiro no fim do mundo.

– Tem paciência, Guma. O que a Rede Baita Sol pode ter a ver com o fim do mundo previsto pelo calendário maia?

– Soube que eles queriam ter um estande no fim do mundo.

– Um estande?

– Sim. Seria o maior estande do fim do mundo. Um estande com produtos típicos gaúchos. O MTG quer participar.

– Para de sacanagem, Guma.

– A negociação empacou na trilha sonora do fim do mundo. A Rede Baita Sol quer o “canto alegretense”. Haveria uma ligeira adaptação: “Não me perguntes onde fica o fim do mundo/Segue o rumo do teu próprio coração…” Uma ala dos tradicionalistas palomenses quer “querência amada”.

– E os maias com isso?

– Eles teriam comprado os direitos do fim do mundo de um descendente dos maias radicado na Praia do Rosa, em Santa Catarina, onde o cara toca uma pousada alternativa, para fazer um curta gaúcho.

– Estou pasmo.

– Consegui, depois de um mate, interceptar a manchete.

– Interceptar a manchete?

– Sim, a última manchete do jornal Meia-Noite: “A batalha dos aflitos: gaúcho escapa do fim do mundo e escreve um épico que vai virar minissérie na Rede Planeta”.

– Minissérie?

– Tarcisinho viverá Neto depois do fim do mundo.

– Uau!

– A Rede Baita Sol está tentando colocar um enviado especial do outro lado antes do fim do mundo. Se conseguir, ganha o prêmio Esso. Está faltando candidato.

     Caiu a ligação. Será um sinal do fim? Oi? Claro. Estou vivo. Ainda. Será que faremos tim-tim no sábado? Eu tinha ligado só para saber o que Guma prevê para o terceiro governo de Lula. Nos dois primeiros ele errou.

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