Juremir Machado da Silva

Ataque a Eduardo Leite

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Ataque a Eduardo Leite “Jean Willys quis lacrar e se deu mal” | Foto: Arquivo pessoal

Jean Willys agrediu vilmente o governador Eduardo Leite. Ficará nos históricos da baixaria o que ele disse depois de Leite anunciar que manteria as escolas civíco-militares no Rio Grande do Sul: “Que governadores heteros de direita e extrema-direita fizessem isso já era esperado. Mas de um gay…? Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes; se for branco e rico então… Tá feio, bee!” Leite, como se sabe, deu o troco sem hesitação: “Manifestação deprimente e cheia de preconceitos em incontáveis direções… e que em nada contribui para construir uma sociedade com mais respeito e tolerância. @jeanwyllys_real, eu lamento a sua ignorância”. De quebra, denunciou o agressor ao Ministério Público e o comparou a Roberto Jeferson e Jair Bolsonaro “pelas falas preconceituosas e discriminatórias” contra ele.

A promotoria de Justiça pediu a remoção do post de Willys argumentando que ele “ultrapassou os limites da liberdade de expressão, ofendendo a dignidade e o decoro do Governador do Estado, sobretudo considerando o alcance da publicação”. Jean Willys quis lacrar e se deu mal. A decisão de Leite foi, embora criticável, de natureza política. O ataque de Willys foi jogo para a torcida. Chama a atenção o silêncio de grande parte da esquerda no episódio. Imaginemos se fosse o oposto: Leite ofendendo Jean Willys. A gritaria seria ouvida de Marte. A isso se chama ideologização total da vida. Passa-se pano para o aliado, detona-se o oponente. Tudo é filtrado pelo viés esquerda/direita, amigo/inimigo, nosso/deles, com a gente/contra a gente.

Há uma frase falsa que a esquerda adora usar: tudo é ideológico. Será mesmo? Respeito é ideológico? Carinho, amor, amizade, tudo ideológico? A direita, por seu turno, gosta de achar que ideologia é só o modo de pensar da esquerda. Ela, direita, veria as coisas como elas são, sem jamais se deixar enganar por deturpações ideológicas. Operação semelhante acontece em relação ao jornalismo. Não existiria possibilidade cognitiva de distanciamento, objetividade, isenção, imparcialidade, neutralidade, em momento algum. Por consequência, todo jornalista deveria se assumir como militante de um lado.

Nesse jogo de pressões e chantagens, quem não abraça um lado é empurrado de um lado para o outro. Outro dia, Nando Gross e eu entrevistamos Olívio Dutra. Com a franqueza de sempre, o ex-governador criticou Vladimir Putin pela invasão da Ucrânia, que a esquerda brasileira justifica por antiamericanismo. Só a autoridade tutelar de Olívio lhe dá o direito de ser crítico. Se Olívio não fosse Olívio, correria o risco de receber alfinetadas. Eterno franco-atirador, atrevo-me a dizer: há coisas que não são ideológicas. É possível, quando se quer, ser imparcial. Começa pela aplicação de mesmos critérios de crítica aos “nossos” e aos “deles” quando ambos pisam na bola e desabam.


Tambor tribal (Devastação do Harmonia)

Nada chamou mais atenção nos últimos tempos em Porto Alegre do que a derrubada das árvores do Parque Harmonia. Ah, sim, teve também a violência policial na Cidade Baixa. A devastação do Harmonia atende pelo nome tecnocrático de “remodelação do espaço”. Na prática, mais um arroubo privatista de Sebastião Melo. O lugar foi entregue a Gam3 para exploração por 35 anos. Natureza não anima dos gestores da aldeia. Eles sonham com Dubai ou outros modelos do gênero. É preciso abrir espaço para a roda gigante de 66 metros e para um parque temático com dinossauros. Nunca entendi essa fixação por dinossauros! E assim 435 árvores, sobre um total de 1.300, podem ir para o pau. A cada árvore derrubada, Melo pavimenta o seu caminho para a reeleição pela direita.


Parêntese da semana

“Parêntese #184: As abóboras”. Título provocativo. Esclarecimento: “Tem aquelas que viram carruagem, e tem as que se ajeitam na medida em que a carroça anda. Nosso assunto são essas segundas”. Boa. Na bagagem “descobrimos o desfecho da história da Lenda do corpo e da cabeça, com o último capítulo do folhetim de Paulo Damin. Karina Lucena nos conta sobre a Victoria Ocampo correspondente. Arnoldo Doberstein relembra o frenesi, em 1949, com o lançamento do primeiro volume de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo. Alexandre Brito resenha o novo livro infantil de Dudu Sperb, O reino do arco-íris”. E mais: “Jandiro Koch narra um pedacinho da história do artista Josuel Miranda. José Falero dá um soco certeiro nos nossos estômagos”. Como deixar de ler?


Frase do Noites

“O pior cego é o que só enxerga ideologia na lente dos outros.”


Imagens e imaginários

No Pensando Bem, que vai ao ar todo sábado na FM Cultura, 107,7, numa parceria da Cubo Play com Matinal e revista Parêntese, Nando Gross, Luís Augusto Fischer e eu conversamos com o músico e poeta Carlos Badia: influências, registros, MPB, jazz, Bossa Nova, tudo isso e mais as referências ao grande João Donato, que foi tocar alhures.


Escuta essa

Mais um gigante partiu. Aos 96 anos, Tony Bennet encerrou sua carreira musical neste lado do paraíso. Nunca é demais ouvir um dos seus maiores sucessos: “I Left My Heart in San Francisco”.

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