Juremir Machado da Silva

Paisagem da janela

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Paisagem da janela Foto: Gariay Thomas/Unsplash

Todos os dias eu abro a mesma janela
Para a vida entrar com os seus jornais
Às vezes, entra junto um raio de sol
Outras, porém, é a umidade que me beija.
Nas paredes eu vejo as marcas da cidade
O amor não é o momento nem a eternidade
O amor apaga o tempo com a sua crueza
Faz cada um sentir-se como essas heras
Que sobem pelos muros sem uma certeza
Enquanto os homens sonham pelas ruas.
De onde me encontro, cheirando a café,
Mastigo cada grão da minha existência
Até me perder numa dobra sem vegetação.
Aquilo que eu vejo é reflexo da lua,
Que morreu pouco antes, ou é uma mutação?
Certas manhãs, vejo minha alma fugir
Ela sai de mim como uma doce aragem
Um vento fresco dobra a mesma esquina
Onde antigamente eu procurava trabalho
Então eu fecho os olhos e vejo claro:
O tempo não passa nem sequer existe
A janela é que sempre fica embaçada,
Fresta impune de uma vista cansada.

É ano de eleições. Tudo se repete.

*

O tempo em que os jornais faziam tremer as elites

Machado de Assis, 30 de outubro de 1859

“Houve uma coisa que fez tremer as aristocracias, mais do que os movimentos populares; foi o jornal. Devia ser curioso vê-las quando um século despertou ao clarão deste fiat humano; era a cúpula de seu edifício que se desmoronava.

Com o jornal eram incompatíveis esses parasitas da humanidade, essas fofas individualidades de pergaminho alçado e leitos de brasões. O jornal que tende à unidade humana, ao abraço comum, não era um inimigo vulgar, era uma barreira… de papel, não, mas de inteligências, de aspirações. É fácil prever um resultado favorável ao pensamento democrático.”

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