Juremir Machado da Silva

Marcel Proust e seus convidados na BPE

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Marcel Proust e seus convidados na BPE Gilberto Schwarsman e convidados na abertura da exposição Caminhos de Proust

Homem de salão, ou de salões, numa época em que os saraus da aristocracia e da burguesia duelavam em nome do luxo e da cultura, Marcel Proust vive. Nesta quarta-feira, 30 de outubro, aconteceu a inauguração da exposição Caminhos de Proust na Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Talvez o mais belo prédio de Porto Alegre, o centenário edifício da rua Riachuelo recebeu intelectuais para uma festa de gala. Festa do livro, da escrita, das ideias, dos sentimentos e da beleza.

Gilberto Schwartsmann, curador da exposição, discursou para os convidados ao lado de um Marcel Proust de corpo inteiro. Fez uma deliciosa apologia da importância da arte na vida das pessoas.

Pedro Corrêa do Lago, neto de Osvaldo Aranha e ex-presidente da Biblioteca Nacional, e a esposa Bia, filha do escritor Rubem Fonseca, compareceram no papel de quem emprestou parte dos duzentos itens sobre Proust que compõem a exposição. Pedro é um dos maiores colecionadores de documentos (autógrafos) manuscritos originais do mundo. Apresentei-o a Patrice Pauc. Modesto, Pedro afirmou que seu avô havia sido um importante político local. “Local!!!!!” – exclamei. Ele riu. Falamos do papel de Osvaldo Aranha, presidindo a ONU, na criação do Estado de Israel.

A cientista e escritora Margaret Dalcomo, vencedora do prêmio Jabuti 2022, na categoria ciência, com o livro “Um tempo para não esquecer: a visão da ciência no enfrentamento da pandemia do coronavírus e o futuro da saúde”, recém-chegada de Portugal, conversou com meio mundo sobre os mais diversos assuntos, inclusive a nova onda de covid. Lembramos de uma cerimônia de Doutor Honoris Causa para Jean Baudrillard, há mais de 20 anos, na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Na sequência, Baudrillard adoeceu e virou seu paciente, hospedado no Copacabana Palace. Margaret foi casada com Cândido Mendes, um grande promotor de cultura, apaixonado pela França e por intelectuais franceses.

O imortal da Academia Brasileira de Letras Domício Proença Filho, com voz suave, deslizava pela exposição comentando Proust, Machado de Assis e suas paixões literárias. Arte evoca arte e tudo vira banquete. O poeta Luiz Coronel também compareceu.

O antropólogo Roberto DaMatta e a esposa acolheram todos os interessados em alguns bons minutos de conversa. DaMatta lembrou que tentou ler Proust aos 19 anos de idade e não funcionou. Com seu habitual poder de síntese, viajou pela literatura francesa do século XIX: “Os miseráveis? Um romance sobre a pobreza. Em busca do tempo perdido? Uma etnografia das classes altas francesas da época”. Roberto DaMatta lembra o saudoso Décio Freitas: um causeur por excelência. Domina a arte da conversação como poucos, tem sempre uma bela tese a defender e ama o que faz. Tenho de dar aula, eu lhe disse em certo momento. Os olhos dele brilharam: “Como é bom dar aula!” O velho professor esbanja alegria.

As professoras Kathrin Rosenfield, Zila Bernd e Maria Luiza Berwanguer garantiram belos momentos de diálogo cultural. Silencioso, com olhos proustianos, Philippe Wilemart, professor da Universidade de São Paulo, um dos maiores especialistas em Proust do país, tudo observava. Os secretários da cultura, Beatriz Araújo (Estado) e Gunter Axt (Porto Alegre) valorizaram o evento. Roberto DaMatta, Margaret Dalcomo e Domício Proença foram condecorados. A BPE reviveu seus melhores momentos.

Patrice Pauc, adido cultural da França em São Paulo, e Mélanie Le Bihan, diretora da Aliança Francesa em Porto Alegre, representaram a pátria de Proust no encontro. Pauc morou em Porto Alegre por cinco anos. Sempre simpático e jovial, abre porta e estende pontes com a França.

O médico e escritor Alcides Stumpf recebeu de Gilberto Schwartsmann a presidência da Associação dos Amigos da Biblioteca Pública do Estado. É garantia de que a BPE vai continuar deliciosamente agitada e ativa.

E tudo terminou no salão de Leonor Schwartsmann, com Gilberto tocando piano e cantando canções francesas. Roberto DaMatta e Domício Proença Filho atacaram, com êxito, de Bossa Nova e de Maysa.

Marcel Proust aplaudiria.

Ele escreveu: “Ficamos moralistas quando somos infelizes”.

Ficamos livres quando somos felizes.

Marcel Proust e suas influências.

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