Juremir Machado da Silva

Transporte público gratuito em Montpellier

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Transporte público gratuito em Montpellier “A igualdade não tem preço”, diz o cartaz que anuncia a gratuidade de ônibus e trens em Montpellier | Foto: Juremir Machado da Silva
A velha Europa tem essa mania de andar na frente. Aliás, é fácil encontrar em Paris gente da elite brasileira andando de metrô, o que esse pessoal não faz em casa. Montpellier, no sul da França, é uma cidade linda, ensolarada, pertinho do Mediterrâneo, onde nasceu o homem que mais influenciou a política do Rio Grande do Sul em todos os tempos: Augusto Comte, o guru de Júlio de Castilhos e de Borges de Medeiros, autor da frase, de resto, que sem a palavra amor, serve de divisa à bandeira brasileira: ordem e progresso. Era amor, ordem e progresso. Montpellier, que tem a faculdade de medicina mais antiga do mundo, terá transporte público gratuito para toda a sua população a partir de 23 de dezembro.

Isso mesmo. O transporte público gratuito é o futuro. Só dinossauros neoliberais não sabem disso. Ou não aceitam. Quem paga a conta? Os impostos. Nada mais justo. Em Montpellier, o transporte público gratuito será presente a partir das vésperas de Natal de 2023. Podíamos dar uma passagem de presente para que Sebastião Melo passasse alguns dias conhecendo uma cidade do velho continente conectada com o novo. No coração de Montpellier, a praça da Comédia (place de la comédie) está em reformas. Um dos objetivos é melhorar a arborização do local. Há uma noção importante na Europa que poderia ser importada para o Brasil, a de coisa pública. Parcerias público-privadas acontecem. Há coisas, porém, que devem ser públicas pelo bem de todos. Essa ideia é sempre moderna e inovadora.

Enquanto cidades atrasadas no Novo Mundo diminuem as isenções no transporte público para saciar o apetite de empresários, Montpellier vai logo para o transporte gratuito. Há cidades brasileiras seguindo o mesmo caminho. Porto Alegre é vanguarda do atraso. Não por acaso aprovou na Câmara de Vereadores o dia do patriota a ser comemorado na data da tentativa de um golpe de Estado. O mico foi tão grande que a ideia precisou ser revogada em urgência. A França é rica? Sim. Mas Porto Alegre teria como instituir o transporte público. O prefeito Nelson Marchezan Júnior, que não é conhecido por ser comunista, queria baixar o preço da passagem para um valor quase simbólico. Até a esquerda foi contra.

Está na moda por aqui cuidar da cidade como a casa de cada um. Claro que não é o paraíso. Tem diferenças sociais gritantes e muita insatisfação. É que o povo não se contenta com pouco. No pacote das reformas, haverá ajuda pública até para comprar bicicleta. Augusto Comte queria transparência, educação, conhecimento, ciência e paz. Os nossos positivistas adaptaram a sua filosofia para “viver às claras” com fraudes eleitorais e degolas nas revoluções feitas para ajustar os resultados das urnas, como há cem anos, em 1923, quando foram às armas por que o governo se viu reeleito, mas a oposição contestou alegando que a Constituição só garantir a reeleição com 75% dos votos do “eleitorado”. Para governo o cálculo deveria contar o eleitorado que votou. Para a oposição, todos os inscritos para votar. Essa, porém, é outra história. Na Feira de Porto Alegre, lançaremos livro sobre o assunto: 1923 na imprensa brasileira.

Aí o patriota me pergunta: por que não te mudas para Montpellier, se gostas tanto assim? A minha resposta só pode ser esta: quem sabe, um dia.

Continua...

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