Juremir Machado da Silva

Um ano de guerra suja

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Um ano de guerra suja Foto: Reprodução / Volodymyr Zelenskiy

Nesta sexta-feira, 24 de fevereiro, a Guerra da Ucrânia completou um ano. A Rússia é o agressor. Vladimir Putin, com seu pendor imperialista à moda antiga, invadiu o país vizinho por razões altamente polêmicas: a ameaça de colocação de mísseis da OTAN em território ucraniano, de frente para o espaço russo; uma suposta nazificação da Ucrânia; a situação de populações pró-Rússia na região de Dombass. Todos esses elementos são racionalizações. A OTAN não tinha qualquer intenção ou razão para atacar a Rússia. Tem tanto nazista na Ucrânia quanto na Rússia. Putin ajudou, por meio das milícias Wagner, a incendiar Dombass. O governo ucraniano é de direita? Qual o problema? Existem governos legítimos de direita.

A análise do conflito é polarizada ideologicamente. Grande parte da esquerda mundial apoia a Rússia por nostalgia da União Soviética. Putin achou que ganharia com facilidade. Não contava com a resistência ucraniana. Acreditava que dividiria o Ocidente. Errou tudo. O desconhecido Zelensky, presidente da Ucrânia, tornou-se uma estrela internacional. O Ocidente está mais unido do que nunca. Só ignora quem quer que Putin sonha com a reconstituição da Grande Rússia. Enquanto isso, inocentes pagam a conta. Alvos civis são bombardeados alegremente pelos russos. Velhas noções de geopolítica são usadas para justificar o injustificável. Putin podia ter continuado a negociar. O seu país não estava diante da ameaça de um perigo iminente. Não interessa saber que a Ucrânia nasceu em parte de uma costela russa. Trata-se de um país soberano. A ONU não se cansa de lembrar disso.

Intelectual adorado pela esquerda pós-queda do muro de Berlim, o esloveno Slavoj Zizek tem desafiado o seu campo ao designar Putin como agressor e ao clamar por apoio ocidental à Ucrânia. Desde o começo da guerra ele tem sido incisivo, sem passar pano ideológico para os russos. No mais recente artigo, escreveu: “Sem o apoio militar do ocidente, hoje a maior parte da Ucrânia estaria sob ocupação russa, mediante o que destruiria um pilar da paz e da ordem internacional: a integridade territorial”. Zizek não aceita que defender a Ucrânia seja apenas sustentar a Europa: “É crucial que a causa da Ucrânia seja defendida em termos universais, em torno de conceitos compartilhados e de uma interpretação consensual de palavras como ‘ocupação’ e ‘liberdade’”. Zizek critica contradições da Ucrânia, como seu apoio a Israel, e do Ocidente, como não ter a mesma atitude em favor da Palestina. Está certo. Isso nada muda em relação ao erro russo.

O presidente Lula tem razão em propor a paz. Resta saber qual seria o espólio da guerra. Se a Rússia ficar com parte do território ucraniano já se terá uma paz enviesada, com o invasor sendo recompensado. A Rússia precisa sair da Ucrânia. A sombra de uma terceira guerra mundial paira sobre nós. Essa ameaça é, antes de tudo, fruto da mente megalomaníaca de Vladimir Putin. Para ele, a guerra é fácil. Nunca estará em frente de combate. Manda matar e morrer sem sair do seu gabinete luxuoso, protegido e brega. Essa guerra, por razões do passado, mata pessoas do presente sem qualquer remorso.

Putin merece ser julgado por um tribunal internacional.

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