Juremir Machado da Silva

Léa Masina, de tudo fica muito

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Léa Masina, de tudo fica muito Léa Masina autografa "De tudo fica um pouco"| Fotos: Juremir Machado da Silva

A professora Léa Masina é um dos grandes nomes da crítica literária do Rio Grande do Sul. Aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ela se dedica a ler, escrever e aprimorar textos de jovens autores. Na quarta-feira, 6 de dezembro, ela lançou, no Salão Mourisco da Biblioteca Pública do Estado, o seu livro De tudo fica um pouco (Zouk). Na primeira parte, artigos publicados no Caderno de Sábado, do Correio do Povo. Na segunda parte, ensaios apresentados em congressos acadêmicos.

Ana Maria de Souza, diretora da BPE-RS abriu o evento.

Léa e Ana Maria

Três escritores consolidados, que participaram do grupo literário de Masina, deram seus depoimentos sobre ela antes dos autógrafos: Guilherme Azambuja Castro, que também assina uma das orelhas da obra; Gustavo Melo Czekster, responsável pelo prefácio, e Rafael Bán Jacobsen. Eles lembraram do rigor de Léa na análise dos textos, da sua sinceridade e da precisão das suas observações. Na apresentação publicada, Czekster destacou um termo usado pela professora: “pulsão”. Que pulsão anima autor e texto: “Faltou pulsão”, “pouca pulsão”, “começou com pulsão e depois perdeu”.

Guilherme, Léa, Gustavo e Rafael

     

Léa Masina falou brevemente da sua relação com seus pupilos. Ficou claro que se estabelece uma sintonia: cumplicidade, compartilhamento e confiança. Tudo o que se precisa quando se quer aprimorar um texto ou saber quanto ele pode valer na cena literária constituída. Alguém talvez prefira a palavra mercado. É muito mais do que isso. Uma experiência estética. Sergio Faraco, que estava presente, sabe o valor da franqueza. A arte é, de certa maneira, para os fortes. Não tolera ilusões. Dá a real.

As leituras de Léa Masina expostas no livro são muitas e sempre sofisticadas: Albert Camus, Alejo Carpentier, Anton Tchekhov, Ernest Hemingway, Eça de Queiroz, Dostoievski, Garcia Márquez, Flaubert, Murakami, Isak Dinesen, Calvino, Salinger, Borges, José Hernández, Joseph Conrad, Marguerite Yourcenar, Philip Roth, Sófocles, Virginia Woolf, Shakespeare. Brasileiros: Machado de Assis, Antonio Candido, Cecília Meireles, Lígia Fagundes Telles, Bernardo Kucinski, Bernardo Carvalho. Gaúchos: Carlos Appel, Celso Gutfreind, Cyro Martins, Alcides Maya, Amilcar Bettega, Luiz Antonio de Assis Brasil, Sergio Faraco, João Gilberto Noll, Ivo Bender. Menção especial aos textos “Relendo o poema Antônio Chimango” e “Meu professor Guilhermino Cesar”. Um trecho:

“Guilhermino Cesar foi um intelectual de atividades diversas. Participou da vida política em relevantes serviços públicos. Mas foi, sobretudo, professor e pesquisador, reconhecido por sua contribuição aos estudos de literatura brasileira. Erudito, destacado historiador, presidiu o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e o Conselho Estadual de Cultura; ensaísta, tradutor, crítico literário e articulista; poeta, autor de obras diversas, teve participação ativa na imprensa gaúcha, sobretudo no jornal Correio do Povo. Interessava-se também pelas artes dramáticas e, nos anos 40, dirigiu a encenação de Antígona, de Anouilh, em Porto Alegre. Coube-lhe, além disso, participar da ‘descoberta’ e reavaliação da obra teatral do dramaturgo Qorpo Santo. Em síntese, Guilhermino foi sempre um dedicado incentivador das artes, entusiasmado e exigente”, escreveu Léa Masina. Muito desse fragmento poderia ser aplicado a ela mesma. Seus alunos não me deixariam mentir.

A colaboração de Léa Masina com o Caderno de Sábado, na época em que atuei como coordenador editorial dessa publicação, foi de grande valia. Texto de Léa sempre fazia o suplemento crescer. Agradeço pela citação feita por ela sobre essa parceria de grande proveito para todos nós.

“De tudo fica um pouco”, verso de Carlos Drummond de Andrade, em Resíduo, não diz tudo: com Léa Masina, de tudo fica muito. Aliás, ela recomenda ler um poema de manhã, em jejum, e outro à noite, antes de dormir. Tal dieta só pode fazer bem. Aprende-se a viver no ritmo do belo.

Vou ler De tudo fica um pouco da primeira à última linha. Aprender dá prazer.

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