Juremir Machado da Silva

Lula, Zanin e o “chupa, Moro”

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Lula, Zanin e o “chupa, Moro” Lula na posse de Zanin como novo ministro do STF | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A indicação de Cristiano Zanin, seu advogado pessoal, para o Supremo Tribunal Federal foi até agora o grande erro de Lula no seu terceiro mandato no Planalto, sem falar do apoio a Vladimir Putin na guerra contra a Ucrânia. Em primeiro lugar porque o STF não deve ser recompensa por bons serviços pessoais prestados ao presidente da República. Além disso, Cristiano Zanin, embora sua tese da suspeição de Sérgio Moro como juiz da Lava Jato estivesse certa, só triunfou graças ao famigerado, mas providencial, hacker de Araraquara. Sem as revelações da Vaza Jato o STF não teria anulado os processos contra Lula. Não adianta dizer que nada da Vaza Jato foi usado na decisão do Supremo. O ânimo dos ministros alterou-se e isso foi decisivo. Basta pensar na virada de jogo de Carmen Lúcia.

Até agora o ministro Cristiano Zanin votou contra tudo o que Lula, o PT, a esquerda e os progressistas acreditam. Alguns dizem que fez isso por ser um garantista. Não se deve confundir, porém, garantismo com conservadorismo. Togado, Zanin vem dando banana para o benfeitor. Votou contra a equiparação da homotransfobia a racismo. Cravou seu voto também contra a descriminalização da maconha para uso pessoal. Neste caso, a argumentação foi rente ao chão das platitudes de capa: “Não tenho dúvidas que usuários são vítimas do tráfico e organizações criminosas, mas se o Estado tem dever de zelar pela saúde de todos, como diz a Constituição, a descriminalização poderá contribuir para o agravamento da saúde. A lógica é que com descriminalização aumente o uso”. Fiéis não aceitam que se critique a escolha de Lula. Algo, contudo, não está batendo no STF.

Um amigo garante que Lula só escolheu Cristiano Zanin como um “chupa, Moro”. Seria humano, demasiado humano, mas não presidencial, exclusivamente presidencial. Lula não teria resistido à tentação de dar o troco, de indicar Zanin para o cargo tão sonhado por Moro. O advogado, ignorado e desprezado pelo juiz de Curitiba, agora senta na cadeira que o seu oponente tanto quis. O gélido Zanin, que não sorri nem exprime qualquer reação facial diante dos acontecimentos, com jeito, segundo o insuspeito José de Abreu, de quem nunca transou, votou também pela manutenção da condenação de dois anos e 26dias a dois indivíduos que roubaram bens no valor de R$ 100. Já se teme o voto de Cristiano Zanin em dois temas fundamentais: aborto e marco temporal. 

Lula tinha fartura de escolhas. A palheta era generosa. Não faltaram sugestões e aconselhamentos. Ainda mais que parte da esquerda não perdoa votos de alguns indicados pelos governos petistas anteriores. Dois nomes faziam jus ao cargo mais do que muitos outros desta vez: Pedro Serrano e Lenio Streck. Ambos criticaram os desvios da Lava Jato, possuem saber jurídico notório e são progressistas. Zanin foi o André Mendonça de Lula. Há um único aspecto positivo para Lula nos votos de Zanin: acusado de ter indicado um amigo, o presidente agora pode dizer que não o conhecia.

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