Juremir Machado da Silva

Melhor não crescer tanto

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Melhor não crescer tanto "Se a economia continuar subindo desse jeito, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode enterrar seus sonhos eleitorais" | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

 Ao longo desta minha vida já não tão curta, calejado no jornalismo, segundo o jargão de carpinteiro, eu me acostumei a ver governos serem criticados por crescimento pífio. Quanto mais o crescimento se aproxima de zero, mais as críticas sobem. Li dezenas de textos de liberais invejosos das taxas de crescimento chinesas quando elas tocavam os dez por cento ao ano. Pois não é que o governo Lula foi advertido de que está crescendo demais! No Estadão, tradicional jornal da elite paulista, um ex-diretor do Banco Central advertiu sobre os perigos de crescer demais. Atônito (ou encantado) o Estadão titulou: “’Se País continuar crescendo 3%, vai ter dificuldade com a inflação’, diz Alexandre Schwartsman”. Uau! E agora? Que fazer?

Tomar medidas urgentes para crescer menos? Frear a expansão? As redes sociais bombaram. Foi o assunto do dia. O cobertor curto foi citado fartamente: se cresce pouco, leva pau; se cresce muito, toma advertência. Governo só faz cagada. Nunca encontra a medida certa. Quase todo mundo imaginava que a meta era crescer uns 3%. Deu 2,9%. Era correr para o abraço: champanha, suco, uísque, uma cachacinha! Comemoração. Nada disso. Crescer desse jeito pode ser terrível. Acostumada a sofrer com a inflação, ou a ser assustada com uma possível volta dela, tipo se votar na esquerda a inflação dispara, muita gente se apavorou. Se duvidar, terá manifestação contra o crescimento. A Paulista cheia de camisetas da CBF pedindo crescimento mais baixo, urrando contra a excessiva eficiência da economia, etc.

Assim, se a economia continuar subindo desse jeito, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderá enterrar os seus sonhos eleitorais. Por que a campanha não decolou? A economia cresceu demais. Cada um com o seu estilo e com as suas obsessões. Zero Hora, tradicional veículo da elite rural gaúcha, mancheteou: “PIB cresce 2,9% em 2023 puxado por agro e exportações”. Se tem gol, é deles. Diante de um possível entusiasmo, apesar da advertência do tal Alexandre Schwartsman, a Folha de São Paulo tratou de colocar água no chope: “Na festa surpresa do PIB de 2023, país não investiu nada no futuro – Investimento produtivo foi dos mais baixos do século e é risco maior para 2024”. Que coisa! Nunca sai como deveria. Eita!

Quem diria, o jornal O Globo mostrou mais entusiasmo: “Com crescimento de 2,9%, Brasil volta ao grupo das 10 maiores economias globais”. Só pode ser a prova de que Globo é comunista. Basta olhar para a barba do William Bonner na televisão para ver que algo saiu dos eixos. Outra de O Globo: “PIB cresce 2,9% em 2023, três vezes o resultado previsto no início do ano”. O que houve? Tudo isso é inquietante. Nada, porém, que se compara com a ameaça de inflação provocada por esse infame e inesperado crescimento de quase 3%. A volta de Lula ao poder pressagiava más notícias, só não via quem não queria ver ou estava cego de ideologia. Agora tudo se confirma.

Onde vamos parar assim?

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