Juremir Machado da Silva

Morri do coração com o Inter contra o River

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Morri do coração com o Inter contra o River Inter venceu o River Plate nos pênaltis nas oitavas de final da Libertadores | Foto: Ricardo Duarte/Sport Club Internacional

Menino, meu coração se revelou vermelho.

Adulto, fui repórter cobrindo o dia a dia do Grêmio.

Durante muitos anos, fui debatedor em programas esportivos assumindo ser colorado, mas enfrentando a tendência simplificadora da mídia, que, em geral, ainda pratica o culto da monocausalidade, atribuindo tudo ao treinador, como cérebro do time, e ignorando o acaso, o imprevisto, o erro, a bela complexidade do jogo, o talento individual, a genialidade pessoal e a transfiguração coletiva.

Sexagenário, achava que o futebol, só um jogo, não me emocionava mais como antes. Ledo engano. A vitória do Inter sobre o River Plate balançou meu coração até aqui de decepções. Tivemos três oportunidades para vencer. Primeiro, no tempo normal, o que só não aconteceu por causa de um gol argentino ao final da partida. A segunda quando nosso carrasco da partida em Buenos Aires deu dois toques na bola na cobrança do seu pênalti e teve o gol anulado. Mas aí Carlos de Pena errou a sua cobrança. Então veio a terceiro oportunidade. O argentino que nos obrigou a sofrer nos pênaltis mandou no travessão.

É raro se ter três oportunidades na vida para um mesmo combate.

Rochet, nosso goleiro gelado, que tinha tentado bater no lugar de Carlos de Pena, chamou para si a responsabilidade. Se não conseguiu defender nenhuma cobrança, resolveu explorar seu conhecimento da angústia do goleiro na hora do pênalti e liquidou o jogo.

Inter classificado.

A cada pênalti eu fazia previsões desencontradas, pessimistas, otimistas, apaixonadas, desesperadas. Estive certo da derrota e convicto da vitória, tive meu coração na boca ou a galope. Senti uma estranha alegria de estar na frente da televisão, ao lado da Cláudia, vibrando como duas crianças. A Cláudia apenas por generosidade.

Sou daqueles torcedores que não desprezam os rivais. Para que a vitória seja grande é necessário que o oponente também seja gigante.

Nossa vitória foi argentina contra os platinos. Gol de cabeça de Mercado, pênalti convertido por Mercado, gol evitado no apagar das luzes, depois de uma falha atroz que condenaria Igor ao ostracismo, por Mercado. Aí se torna inevitável promovê-lo: Gabriel SuperMercado.

Vitória argentina com o técnico Coudet, que voltou mais humano, mais simpático, menos dogmático, mais ousado ainda, mais colorado.

Vitória platina contra os argentinos. O Inter é um misto de uruguaios, argentinos e brasileiros. Nenhum time é o mais latino-americano neste Libertadores da América do que o Inter. Um time que tem colombiano, equatoriano, uruguaio, argentino e brasileiro.

Eufórico, saí dizendo que estamos com a taça na mão. É bravata, exagero, gozo antes do tempo, alegria incontida, felicidade total. Claro que ainda estamos muito longe de tri. Mas já voltamos a sonhar.

Aí eu penso: o futebol é isso. Só um jogo. Serve para nos distrair, encantar, divertir e emocionar. E assim passamos a vida.

Dá-lhe, Inter. Meu coração aguenta. Aos pulos.

Sou um sobrevivente da felicidade mais desinteressada que existe.

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