Não toquem na Redenção
Ali, porém, o sinal já havia acendido. Ele se bolsonarizou para ganhar. Instalado no cargo, surgiu outro homem. Nada mais daquele valente crítico das benesses da turma dos camarotes nem do político pronto a discutir com seus críticos. Surgia o Sebastião Melo 22.0. Bolsonarista de carteirinha, reverberando os discursos do capitão, tudo pelo poder. Nessa nova versão, o antigo simpatizante de ideias progressistas, jovem pobre vindo do Brasil Central lutar pela vida em Porto Alegre, mostraria a sua versão ultraliberal: privatizar, privatizar, privatizar...
Uma coisa é conceder à exploração privada áreas degradadas ou abandonadas de uma cidade. Outra, bem outra, entregar o principal parque do lugar para administração privada sob o pretexto de que é deficitário, como declarou impunemente um secretário do prefeito Melo. O Parque da Redenção dá lucro diário para Porto Alegre. Lucro em ar para respirar, em beleza, em verdura, em espaço para caminhar, em alegria de viver, em cantos de passarinhos para ouvir, em tudo. A Redenção pulsa, fervilha, respira, inspira, suspira. Tudo nela é vida e aproveitamento. O olho dos dinheiristas cresce. Querem faturar em cima da joia da cidade. Inventam problemas para vender soluções. Não dormem pensando no que podem ganhar.
Pagamos impostos para que os parques sejam cuidados sem precisar alugá-los, arrendá-los, entregá-los. A administração de Sebastião Melo impressiona pela mediocridade. Talvez a má influência do vice, Ricardo Gomes, tenha algo a ver com a mutação de Sebastião Melo. Nessa toada, Melo talvez não se eleja novamente nem para síndico do seu prédio. Talvez dobre a aposta na esperança de manter o que mais o mobiliza: o poder. Quando a democracia precisou dele, Melo ficou novamente com Jair Bolsonaro e com seu candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni, mesmo com o seu partido, o MDB, estando, com Gabriel Souza, na chapa de Eduardo Leite, que se sagraria vitoriosa na eleição.
Melo perdeu com Bolsonaro, perdeu com Lorenzoni e parece querer perder com Ricardo Gomes, desafiando o que Porto Alegre tem de mais caro. Mexer com a Redenção é como mexer com nossos valores. Ainda dá tempo, prefeito Melo, volte às origens, lembra delas? Deixe a Redenção em paz. Salvo se estiver cansado da administração pública e desejoso de novas experiências laborais no futuro próximo. O tempo passa rápido...
A Redenção não precisa de comércio permanente em cima dela.
Nem de estacionamento subterrâneo.
Já basta aquele barzinho melancólico instalado no lugar do orquidário! Melo, contudo, não parece ouvir. Está surdo pelo poder.
Continua...