Juremir Machado da Silva

Nilson May, Kafka e Pedro Weingärtner

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Nilson May, Kafka e Pedro Weingärtner Nilson May na abertura da exposição Pedro Weingärtner | Fotos: Juremir Machado da Silva

Escritor, autor de O leão da Calábria, Bosque da solidão, Céus de Pindorama e outros livros, Nilson May é também um grande estudioso da obra de Franz Kafka. Neste sábado, 2 de setembro, May falará de Kafka, a partir das 17 horas, na livraria Paralelo 30 (Vieira de Castro, 48). Na verdade, May sabe tudo de Kafka. Lê e relê o autor de A metamorfose como quem lê o jornal do dia. Vai à Europa nas pegadas do escritor nascido em Praga e volta ainda mais apaixonado. As edições dos livros de Kafka são seus tesouros. No Caderno de Sábado, do Correio do Povo, Nilson May já publicou artigos antológicos sobre o genial criador de O processo.

Kafka é um gigante sempre lido. Atravessar as décadas sendo lido por prazer, não por obrigação, é para poucos. Uma vez, aproveitando uma efeméride, fiz uma aproximação por minha conta e risco. A metamorfose, a mais famosa obra de Franz Kafka, fazia cem anos de publicação. O mais conhecido livro de Dyonélio Machado, Os ratos, completava 80 anos. Escrevi: Kakfa conta a história de um caixeiro-viajante que se sacrifica para pagar as dívidas da família e, certo dia, amanhece transformado num inseto repugnante. Uma barata? Dyonélio descreve o desespero de um funcionário público que tem um dia para conseguir pagar o leiteiro. Acaba por ter um delírio. Vê a casa invadida por ratos. O personagem de Franz Kakfa chama-se Gregor Samsa. O protagonista de Dyonélio Machado é o inesquecível Naziazeno Barbosa.

Os dois estavam encurralados. Escrevi isso e fiquei pensando em Nilson May, que traz o mundo de Kakfa no bolso e tem a literatura na alma. Há quem escreva e leia por distração. Há quem o faça por profissão. May é desses que fazem da literatura, como leitor ou escritor, uma condição existencial. Ama e pronto. Incondicional. Nada mais adequado que um homem assim se transformar num especialista em Kafka, o escritor que nunca fez concessões. Escreveu com as tripas.

Escrevi que Kafka e Dyonélio remetem a outro tempo, o tempo dos livros. Um lindo tempo que ainda existirá como um vestígio, um fóssil, durante alguns anos. Depois, vai se apagar com um suave ruído de páginas se fechando. O que diremos de Kakfa e Dyonélio dentre de cem anos? Eu estava num momento pessimista. Terminava dizendo meu artigo era um discurso fúnebre que culminaria nalgum momento com uma frase para sempre maldita: aqui jaz o livro. Hoje, reflito sobre tal previsão e me corrijo: enquanto existirem pessoas como Nilson May o livro resistirá. Além disso, ele ajuda a semear. Ao falar de Kafka, acende novas vocações. Provoca. Não duvido de que desse encontro na Paralelo 30 saiam outros apaixonados dispostos a amar os livros.

Misturei livros, May e Kakfa. Não volto atrás. Assino. Estarei na primeira fila, se houver lugar, para me alegrar. Ouvir sobre Kafka é como ler novamente suas obras. A gente nunca termina de se encantar. Creio que é também disso que, em certo sentido, Nilson May falará. Reli A metamorfose faz poucos dias. Fiquei novamente deslumbrado.

Exposição Pedro Weingärtner na Casa da Memória

Obra de PW | Fotos: Juremir Machado da Silva

     

Nesta quarta-feira, 30 de agosto, foi inaugurada na Casa da Memória Unimed Federação/RS (Santa Teresinha, 263), a exposição Pedro Weingärtner, com 45 obras de um dos maiores pintores gaúchos de todos os tempos emprestadas por museus e colecionadores como Gilberto Schwartsmann. A curadoria é de José Francisco Alves e Marco Aurélio Pinto. Nilson May abriu o evento falando do seu amor pela cultura e destacando o fato de que a Unimed Federação/RS, tendo alcançado excelência no seu ramo, passou a ver na cultura um modo de contribuição à sociedade. A exposição PW mostra o enorme talento do pintor, no seu estilo acadêmico confrontado pelos modernistas.

São quadros que impressionam pelo realismo, pelo detalhe, pela perfeição fotográfica e pela capacidade de capturar o cotidiano, o colorido local, a vida nas suas minúcias do dia a dia, o mundo da vida. A exposição PW ficará aberta ao público até fevereiro de 2024.

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