Juremir Machado da Silva

Robô da Xuxa errou tudo. Harari também

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Robô da Xuxa errou tudo. Harari também Yuval Harari, autor de "Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã" | Foto: Sikarin Thanachaiary/World Economic Forum

Quem não erra? Guma, o vidente de Palomas, para não errar, só previa o previsível. Previu que 2023 viria depois de 2022 e antes de 2024. Já a Cibernética, robô que se apresentou no programa da Xuxa, nos anos 1990, previu o ano de 2023 com rara imprecisão: “Somos muito felizes, a natureza está em ordem, estamos todos bem. Não há guerras. Os seres humanos se conscientizaram da paz”. Fantástico! Não, não foi no Show da Vida. Foi no Show da Xuxa mesmo. Aliás, Dona Cibernética previu também um Show da Sasha. Mas a filha da Xuxa pelo jeito não curtiu muito a ideia.

A robô da xuxa não foi a única a errar feio nas suas previsões idílicas. Yuval Harari, historiador israelense, chuchu (ou seria, no caso, “xuxu”) do mundo editorial globalizado, para usar um termo da época da Xuxa, também pisou feio na bola. Em Homo Deus, uma breve história do amanhã (2015), ele abre dizendo que os três maiores males da história da humanidade estão controlados: fome, pestes e guerras. Segundo ele, o açúcar mata mais atualmente do que a pólvora: “Mas no alvorecer do terceiro milênio a humanidade chegou a uma incrível constatação. A maior parte das pessoas raramente pensa sobre isso, porém nas últimas poucas décadas demos um jeito de controlara fome, as pestes e a guerra”. Uau! Parece que algo deu errado. Ainda dá para corrigir.

Best-seller, mimado e adulado, Harari tentou relativizar seu erro: “É evidente que esses problemas não foram completamente resolvidos, no entanto foram transformados de forças incompreensíveis e incontroláveis da natureza em desafios que podem ser enfrentados. Não precisamos rezar para nenhum deus ou santo para quem nos salvem deles. Sabemos bem o que precisa ser feito para evitar a fome, as pestes e a guerra – é geralmente somos bem-sucedidos ao fazê-lo”. Uau! E um cara desses passa por sábio, gênio, crânio, guru, influencer, o escambau. Dona Cibernética era mais modesta e certeira.

Qual a solução para a guerra da Ucrânia, provocada pelos delírios do tirano Putin, desejoso de reinventar a Grande Rússia e a União Soviética ao mesmo tempo? De quem os habitantes de Gaza esperam a salvação enquanto permanecem encurralados pelo Hamas e pelas forças armadas de Israel? Acreditam nas palavras de Joe Biden ou rezam para que Alá os proteja? A fome campeia. A pandemia da covid-19 fez Harari passar uma baita vergonha. É verdade que surgiram vacinas rapidamente para frear o estrago. Ainda assim, foram alguns milhões de mortos. Dona Cibernética errou até mesmo na previsão de que Xuxa ainda estaria fazendo sucesso em 2023. A ex-rainha dos baixinhos continua midiática, como uma sombra do que foi e não a abandona, simulacro de uma existência feérica, vestígio de um vulcão que agora ronrona ao entardecer.

Guma, o oráculo de Palomas, era mais preciso. Dizia: “O mundo será melhor, salvo se for pior”. Ou: “A paz prevalecerá, exceto quando houver guerra”. Até em futebol ele acertava: “Se houver dúvida, pró-Flamengo e Corinthians”. Daí a pergunta: por que não levaram Guma ao programa da Xuxa? Por que seus livros não viraram best-sellers internacionais? Acho que a precisão de Guma acabava por incomodar. Afinal, ele só previa o previsível.

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