Juremir Machado da Silva

Relatos da barbárie na Amazônia

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Relatos da barbárie na Amazônia Dom Phillips (de boné) e Daniel Camargos | Foto: Repórter Brasil/Divulgação

O assassinato do jornalista britânico Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e do indigenista Bruno Pereira, em Atalaia do Norte, na Amazônia, em 5 de junho 2022, chamou a atenção para antigos problemas da região, especialmente o da violência indiscriminada contra todos os que denunciam crimes contra os indígenas e contra o meio ambiente. A morte de um europeu fez com o que o fato repercutisse muito mais. No documentário Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia, ganhador do 40º Prêmio Direitos de Jornalismo 2023, na categoria Documentário, Daniel Camargos, da Repórter Brasil, acompanha a cobertura de imprensa da procura por Dom e Bruno, que se tornará a descoberta dos corpos.

O documentário será exibido hoje no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, com a presença de Daniel Camargos. A Repórter Brasil reúne jornalistas, educadores e cientistas sociais com o objetivo de “fomentar a reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil”. É no âmbito dessa missão que Camargos tem atuado na Amazônia. O filme mostra o estupor dos jornalistas com os assassinatos de Dom e Bruno. Situa o trabalho feito por repórteres na região e a relação deles com indígenas. Discute questões importantes do jornalismo como a regra de “ouvir o outro lado”. Em determinado momento, vem a pergunta: como permanecer isento quando um lado está matando o outro? Enquanto apresenta o campo dos acontecimentos e seus protagonistas, o documentário discute jornalismo em termos de ética e posicionamentos.

Funciona como uma aula prática. Bem montado, impactante até do ponto de vista de trilha sonora, “Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia” revela um cotidiano de muitas tensões. Focado no trabalho da imprensa, permite ver o valor de cada um no espaço jornalístico. A chegada de Caco Barcellos ao local da cobertura mexe com os demais jornalistas. Como disse Pierre Bourdieu, “m campo é um espaço social estruturado, um campo de forças – há dominantes e dominados, há relações constantes, permanentes, de desigualdade, que se exercem no interior desse espaço – que é também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças. Cada um, no interior desse universo, empenha em sua concorrência com os outros a força (relativa) que detém e que define sua posição no campo e, em consequência, suas estratégias”. Jornalismo é “esporte de combate”. Muito mais do que isso, espaço de vida e morte por valores.

Conversei por telefone com Daniel Camargos. Mineiro, 42 anos de idade, repórter de campo. com passagem pelos jornais O Estado de Minas e pela Folha de São Paulo, especializado em conflitos no campo, ele tem atuado na Amazônia, pela Repórter Brasil, desde 2018. O documentário foi uma estreia para ele, que fez o roteiro e codirigiu o filme, ao lado de Ana Aranha.

As parcerias da Repórter Brasil com o Guardian o levaram a trabalhar e conviver com Dom Phillips, com quem assinou reportagens e fez duas grandes viagens pela Amazônia. Surgiu uma amizade feita de bons papos, cerveja e muito jornalismo. Camargos entende que a comparação entre o atual governo e o período Bolsonaro dá vantagem a Lula, mas que a sociedade precisa cobrar mais em se tratando de proteção aos territórios indígenas e aos seus interesses. O problema está na articulação entre o poder gigantesco do agronegócio e as necessidades dos povos locais.

Quando conversamos, Camargos estava saindo de um encontro com professores e estudantes na Escola Luiz Gama, no bairro Belém Velho, em Porto Alegre. “Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia” não pode deixar de ser visto e debatido em escolas de jornalismo.

40º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo 2023

75 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem

Categoria Documentário

1º lugar
Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia
Repórter Brasil – São Paulo – SP


Ana Aranha
Daniel Camargos
Carlos Juliano Barros
Fernando Martinho
Caio Castor
Pedro Watanabe
Rafael Veríssimo
Gustavo Carvalho
Fernando Ianni
Rafael Jyo
Vinícius Silvestre
Cynthia Gancev
Beatriz Vitória
Joyce Cardoso
Delphine Lacroix
Daniel Tancredi
Cadu Silva
Júlia Dolce
Ana Magalhães
Mariana Della Barba
Tamyres Matos

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