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Projetos de vida e de morte

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Projetos de vida e de morte Alunos da E. E. Thomazia Montoro homenageiram professora Elisabete Tenreiro, uma das vítimas do ataque na escola paulista. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil


Por Alex Saratt*

Tenho total desacordo com o Novo Ensino Médio. Defendo a construção coletiva de uma nova lei que reestruture o Ensino Médio, lhe dê substância pedagógica robusta, dialogue com os mundos do trabalho e da inovação de modo equivalente ao diálogo com o exercício da democracia, cidadania, direitos e deveres e que tenha financiamento e investimentos suficientes para alcançar qualidade, excelência e significado na vida dos estudantes.

Mas dentro desse modelo esdrúxulo, um ornitorrinco pedagógico, existe uma “disciplina” (entre aspas porque lhe falta estatuto científico) cuja nomenclatura enganosa serve para uma reflexão diante de mais um caso trágico e criminoso de ataque a uma escola que vitimou a professora Elisabete Tenreiro: projeto de vida.

Não vou me ater às minúcias, nem questionar o teor da matéria exótica, mas contrapô-la ao verdadeiro projeto de morte que o fascismo legou à sociedade e que hoje repercute nos crescentes casos de assassinatos de inocentes.

A necropolítica se revela, excitada pelos preconceitos, mentiras, medos e desumanidades. A rigor, a educação, a escola e o ensino sempre tiveram nos educadores, entusiastas da vida, que jamais se furtaram a discutir verdadeiros projetos de vida latu sensu. Mas frente a dissociatividade e o irracionalismo instalados como padrões de incivilidade, autênticos “projetos de morte”, cabe resgatar a vida como bem supremo.

É urgente fazer do trabalho didático e educativo um meio para reafirmar o valor da existência, reivindicando em conjunto ações governamentais para coibir o discurso de ódio e o armamentismo, realizar a educação preventiva e o combate a todas as formas de intolerância e discriminação e desenvolver uma cultura de paz e não-violência. Só assim debelaremos essa enfermidade psicossocial e abriremos caminhos para novos tempos.

Que o triste e revoltante episódio da E.E. Thomazia Montoro não sirva à demagogia autoritária e fascista da militarização das escolas, da redução da idade penal ou da solução armada para problemas eminentemente econômicos, sociológicos e ideológicos. Derrotar o negacionismo e o extremismo é parte da luta por um projeto de vida societária justa, igualitária e humana, é tarefa urgente para extinguir o projeto de morte.

Professora Elisabete Tenreiro, presente.


*Professor de História e 1° vice-presidente do CPERS Sindicato

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