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Boas novas

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Boas novas Projeto que oferece companhia a mulheres nas paradas está previsto para Porto Alegre | Reprodução Eletromidia

Depois de uma semana com aumento para o Executivo e Legislativo, réu por fraude em licitação vencendo edital da coleta do lixo, PEC que dificulta mudanças no hino e mais um ciclone, decidi trazer boas notícias para esta sexta-feira. Porto Alegre conta com 255 novos abrigos de ônibus e 156 painéis publicitários, dos quais 104 são digitais*, uma contrapartida para a Eletromidia, empresa responsável pelas novas instalações. Os totens eletrônicos já foram alvo de críticas por dificultar a circulação de pedestres, em especial pessoas com deficiência.

Mas eu prometi boas novas, então vamos lá.

Primeiro: ao menos no caso que reportamos em dezembro, sobre o painel que atrapalhava a circulação no Brique da Redenção, o equipamento foi retirado. Apesar de outros problemas que eventualmente não foram resolvidos, esses mesmos totens poderão ser o alívio para tantas mulheres que temem ficar sozinhas nas paradas, especialmente à noite. 

Um projeto da Eletromidia chamado Guarded Bus Stop mapeou os pontos de ônibus mais desertos de Campinas (SP) e colocou, em cinco equipamentos, câmera noturna, microfone, conexão com internet e um sensor, que detecta quando há apenas uma pessoa no abrigo. Na tela, surge a mensagem: “Você precisa de companhia até o ônibus chegar? Peça agora.”

Com um toque no painel, começa uma chamada de vídeo. Do outro lado, uma profissional da empresa se oferece para permanecer online até o coletivo chegar. O projeto-piloto foi premiado em Cannes e registrou uma média de 150 chamadas por noite. A iniciativa vai se estender para 20 abrigos em Campinas, 70 em São Paulo e 10 no Rio de Janeiro. Porto Alegre está no horizonte para as próximas fases, segundo me informou a assessoria da Eletromidia.

Idealizado pela AlmapBBDO, o projeto me lembrou a iniciativa Vamos Juntas?, criada em 2015 pela jornalista Babi Souza, aqui na capital gaúcha. A ideia era reunir mulheres para caminharem juntas pelas ruas em momentos solitários como esses. Na época, grupos de Facebook foram lançados para conectar a mulherada em diversas cidades brasileiras.

O medo de andar à noite sozinha e, pior, ficar parada à espera de um ônibus é cotidiano na vida das mulheres. Uma pesquisa de 2020 realizada pela ONG Think Olga mostrou que 76% das entrevistadas se sentem inseguras nas paradas. Ainda que os painéis digitais da Eletromidia não sejam garantia de proteção, no mínimo têm potencial para ajudar a diminuir a sensação de insegurança – o que já é um ganho considerável no nosso dia a dia.

* De acordo com o último balanço divulgado em maio pela prefeitura.

A brasa do Tição

Terminou nesta semana a exposição Tição – Existência e resistência, no Museu da UFRGS. A mostra conta a história da publicação criada por um grupo de intelectuais negros gaúchos, entre eles, o poeta Oliveira Silveira, também idealizador do Grupo Palmares e integrante do Movimento Negro Unificado. Em formato de revista e jornal, o veículo circulou entre o final dos anos 70 e início dos 80 e ajudou a impulsionar a organização de negros e negras no Estado, além de dar visibilidade a pautas do movimento e a cultura da negritude.

Fotos Marcela Donini

Um dos documentos expostos é um exemplar da primeira edição, de março de 1978, com manchetes que poderiam ser de 2023: Racismo diz presente na escola e A mulher negra cansou de ser doméstica.

Em um dos painéis onde os visitantes podiam deixar suas impressões, li a seguinte frase: “A brasa do Tição queima os racistas até hoje”. 

Se você perdeu, ainda vai ter a chance de conferir a exposição em setembro, no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.


Marcela Donini é editora-chefe do Matinal.
Contato: [email protected].

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