Queremos a Feira do Livro gigante
A primeira vez que vi meu nome impresso num jornal já faz mais de 20 anos. Assinava uma pequena reportagem sobre a Feira do Livro de Porto Alegre, resultado de uma oficina de jornalismo promovida pela Caldas Junior. Isso foi antes da Universal comprar o Correio do Povo, muito antes do Elon Musk destruir o Twitter e antes mesmo do Mark Zuckerberg sequestrar boa parte do nosso tempo e do dinheiro que financiava o jornalismo.
O ano era 2000 e eu estava naquele limbo entre o segundo grau e a faculdade. Tinha tempo para percorrer as dezenas de páginas da programação da Feira e preencher meus dias com oficinas, leituras comentadas, debates de livros, sessões de autógrafos e por aí vai. Mas agora essa programação corre sérios riscos.
Alertados pelo Luís Augusto Fischer, editor e fundador da Parêntese, publicamos uma reportagem que mostrou que um dos eventos mais tradicionais da capital, a nossa querida Feira do Livro, está com o orçamento reduzido. Uma mudança nos critérios de acesso à Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do estado deixou de fora a maior festa literária do Rio Grande do Sul. O baque representa quase um terço do orçamento esperado para este ano.
Desde que meu coração acelerou ao visitar o parque gráfico da Caldas Júnior, muita coisa mudou. O jornal impresso é quase peça de antiquário: em 2022, os 15 principais jornais brasileiros registraram tiragem média diária de 394 mil exemplares; em 2007, só o Correio do Povo imprimia, em média, 155 mil exemplares por dia.
Nesses mais de 20 anos, Lula ainda seria eleito presidente pela primeira vez – e mais duas depois disso. Jair Bolsonaro foi um pesadelo que durou quatro anos, um governo que odiava a arte. Mas nós sobrevivemos, o jornalismo sobreviveu, os artistas e produtores culturais não se entregaram.
E aqui no Matinal nós somos grandes entusiastas da arte e da cultura. Diariamente nossos assinantes recebem uma programação com eventos escolhidos a dedo pela equipe do Roger Lerina – que nas quintas também envia sua newsletter recheada de conteúdos bacanas, com resenhas e reportagens sobre artistas conhecidos do público a gente que está começando na música, na literatura e nas mais variadas manifestações artísticas.
Todo sábado a Parêntese – capitaneada pelo Fischer, que foi patrono da Feira do Livro em 2013 – apresenta uma seleção de textos deliciosos, como artigos, crônicas, ensaios e ficção de autores diversos. Aliás, a revista já revelou muita gente boa, como o José Falero e o Pablito.
De segunda a sábado, contamos com as colunas do Juremir, que por anos editou o suplemento de Cultura do Correio do Povo – até ser demitido por não entrar na barca furada do bolsonarismo. Juremir escreve com desenvoltura admirável sobre temas variados, entre eles, filmes, livros e a história de gente importante da nossa cultura.
Gosto de pensar que toda essa grande crise que envolve do Bolsonaro ao Zuckerberg, passando pelo Edir Macedo, foi a tempestade perfeita para reunir Lerina, Fischer, Juremir e uma equipe de outros jornalistas talentosos.
E a Feira? A Feira ainda é um espaço democrático que reúne escritores e escritoras de diferentes lugares do país e recebe gente de todas as idades e classes, estudantes das redes públicas ou privadas, ninguém paga nada para acessar sua programação. Um lugar para garimpar raridades e conhecer novos títulos e nomes, espaço de debates de temas contemporâneos a grandes discussões filosóficas. Um momento para celebrar a literatura, os livros e tudo que eles nos proporcionam.
Também continua sendo um dos meus eventos preferidos da cidade, e tenho certeza de que não estou sozinha. É hora de apoiá-la!