Matinal | Microscópio

Para além do sistema respiratório: os desafios complexos da Covid-19

Change Size Text
Para além do sistema respiratório: os desafios complexos da Covid-19 No início da pandemia, houve quem enxergasse a Covid-19 como uma infecção respiratória simples, similar a um resfriado ou a uma gripe. De fato, a maioria dos casos se apresenta de forma assintomática ou sintomática leve. Nestas situações, e inclusive nas de muitos pacientes que requerem internação hospitalar, os sintomas respiratórios são os mais prevalentes. Porém, a Covid-19 representa um desafio mais complexo que isso. Embora ainda estejamos todos ainda aprendendo a lidar com ela, já há relatos e evidências de que o SARS-CoV-2 pode interagir com múltiplos órgãos e sistemas, gerando efeitos que vão muito além dos respiratórios tradicionais, que são tosse, febre e falta de ar. Neste texto, vamos olhar para algumas das evidências sobre as manifestações complexas da Covid-19, disponíveis até a segunda semana de maio. Iremos, assim, elaborar sobre nosso texto do dia 14 de abril, quando descrevemos o modo principal pelo qual o vírus ataca células do pulmão, e como a reação imunológica pode agravar o quadro. Nosso objetivo, aqui, é lançar luz sobre as diferentes formas como um organismo pode interagir com nosso corpo. Embora sejam estas manifestações pouco frequentes, elas se tornam significativas num contexto de pandemia. Isso reforça a importância de manter a prudência, sobretudo num contexto de flexibilização do isolamento social. Sistema nervoso Entre os relatos de sintomas extrapulmonares do SARS-CoV-2, alguns dos mais abundantes envolvem o sistema nervoso. Este sistema se divide entre central (encéfalo e coluna vertebral) e periférico (o amplo sistema de neurônios e células especializadas difundidas por todo o do corpo), e está relacionado diretamente com inúmeras funções vitais, como sensibilidade e reflexos. O impacto da Covid-19 não surpreende, pois muitos vírus interagem com neurônios e outras células deste sistema. Isso não é novo. Porém, o caráter massivo da pandemia levanta alerta entre especialistas, seja para desenvolvimento de novas patologias, seja para o agravamento de quadros neurológicos já existentes. De acordo com uma revisão publicada no Medscape, há quatro formas principais pelas quais um vírus pode interagir com o sistema nervoso. A primeira delas seria através de um ataque direto à células nervosas. Um exemplo são casos de infecções pelo vírus do herpes que atacam o sistema nervoso, gerando quadro inflamatório conhecido como encefalite herpética. Até o momento, não há evidência de que o SARS-CoV-2 consiga agir assim. A segunda forma é indireta, através de uma resposta imunológica excessiva. Isso pode ocorrer através da “tempestade de citocinas”. Há um relato de Covid-19 neste sentido. Trata-se de um caso de encefalite hemorrágica necrotizante, quadro em que moléculas inflamatórias produzidas em excesso invadem o sistema nervoso. A terceira forma ocorre quando o sistema imune adaptativo reage a uma infecção aguda, produzindo anticorpos que acabam por também atacar tecidos do próprio corpo. Um exemplo disso é a síndrome de Guillain-Barré relacionada à Covid-19. Essa associação ainda está sendo debatida, mas já há pelo menos cinco casos relatados. A quarta forma é a forma na qual se encontram a maioria dos casos de quadros neurológicos associados à Covid-19. Nesta situação, o […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

No início da pandemia, houve quem enxergasse a Covid-19 como uma infecção respiratória simples, similar a um resfriado ou a uma gripe. De fato, a maioria dos casos se apresenta de forma assintomática ou sintomática leve. Nestas situações, e inclusive nas de muitos pacientes que requerem internação hospitalar, os sintomas respiratórios são os mais prevalentes. Porém, a Covid-19 representa um desafio mais complexo que isso. Embora ainda estejamos todos ainda aprendendo a lidar com ela, já há relatos e evidências de que o SARS-CoV-2 pode interagir com múltiplos órgãos e sistemas, gerando efeitos que vão muito além dos respiratórios tradicionais, que são tosse, febre e falta de ar. Neste texto, vamos olhar para algumas das evidências sobre as manifestações complexas da Covid-19, disponíveis até a segunda semana de maio. Iremos, assim, elaborar sobre nosso texto do dia 14 de abril, quando descrevemos o modo principal pelo qual o vírus ataca células do pulmão, e como a reação imunológica pode agravar o quadro. Nosso objetivo, aqui, é lançar luz sobre as diferentes formas como um organismo pode interagir com nosso corpo. Embora sejam estas manifestações pouco frequentes, elas se tornam significativas num contexto de pandemia. Isso reforça a importância de manter a prudência, sobretudo num contexto de flexibilização do isolamento social. Sistema nervoso Entre os relatos de sintomas extrapulmonares do SARS-CoV-2, alguns dos mais abundantes envolvem o sistema nervoso. Este sistema se divide entre central (encéfalo e coluna vertebral) e periférico (o amplo sistema de neurônios e células especializadas difundidas por todo o do corpo), e está relacionado diretamente com inúmeras funções vitais, como sensibilidade e reflexos. O impacto da Covid-19 não surpreende, pois muitos vírus interagem com neurônios e outras células deste sistema. Isso não é novo. Porém, o caráter massivo da pandemia levanta alerta entre especialistas, seja para desenvolvimento de novas patologias, seja para o agravamento de quadros neurológicos já existentes. De acordo com uma revisão publicada no Medscape, há quatro formas principais pelas quais um vírus pode interagir com o sistema nervoso. A primeira delas seria através de um ataque direto à células nervosas. Um exemplo são casos de infecções pelo vírus do herpes que atacam o sistema nervoso, gerando quadro inflamatório conhecido como encefalite herpética. Até o momento, não há evidência de que o SARS-CoV-2 consiga agir assim. A segunda forma é indireta, através de uma resposta imunológica excessiva. Isso pode ocorrer através da “tempestade de citocinas”. Há um relato de Covid-19 neste sentido. Trata-se de um caso de encefalite hemorrágica necrotizante, quadro em que moléculas inflamatórias produzidas em excesso invadem o sistema nervoso. A terceira forma ocorre quando o sistema imune adaptativo reage a uma infecção aguda, produzindo anticorpos que acabam por também atacar tecidos do próprio corpo. Um exemplo disso é a síndrome de Guillain-Barré relacionada à Covid-19. Essa associação ainda está sendo debatida, mas já há pelo menos cinco casos relatados. A quarta forma é a forma na qual se encontram a maioria dos casos de quadros neurológicos associados à Covid-19. Nesta situação, o […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.