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Biólogo aponta riscos nas podas da Equatorial e diz que árvores podem não se recuperar

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Biólogo aponta riscos nas podas da Equatorial e diz que árvores podem não se recuperar Foto: Gregório Mascarenhas/Matinal

Cortes são “imprecisos, imperfeitos, irresponsáveis”. Vegetais podem acumular danos e apodrecer, afirma especialista

Não só no fornecimento de energia elétrica para serviços públicos essenciais ou na remoção dos emaranhados de fios nos postes há embates entre a prefeitura de Porto Alegre e a CEEE Equatorial: também a poda das árvores se tornou tema de disputa entre o governo local e a concessionária. 

Na quarta-feira, o prefeito Sebastião Melo (MDB) criticou em suas redes sociais a “precariedade” na atuação da Equatorial em podas no entorno das redes elétricas, e afirmou que a empresa causa transtornos aos cidadãos. Ele expôs a situação da rua Ramiro Barcelos, no bairro Rio Branco, onde a poda deixou uma série de vegetais desfigurados, pendendo excessivamente para um lado – a publicação gerou engajamento nas redes do prefeito, com comentários críticos a respeito de podas executadas pela Equatorial

Não é a primeira rusga entre Melo e a concessionária: o chefe do executivo já havia feito críticas ao trabalho da companhia – uma no começo do ano, quando a falta de luz em uma estação de bombeamento agravou alagamentos na cidade; depois, no rescaldo do temporal do dia 16, não conseguiu contato com empresa e reclamou em sua rede social.

A Matinal foi à região fotografada pelo prefeito, e consultou um biólogo arborista, para avaliar o trabalho ali executado pela CEEE Equatorial. Para Francisco Siliprandi, integrante da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), essas podas excessivas deixam os vegetais em perigo. “Eles fazem podas drásticas, que interferem em mais de 30% do volume de copa, que seria o limite aceitável, e esses cortes imprecisos, imperfeitos, irresponsáveis, dão brecha para que a árvore não consiga se recuperar. A partir daí podem apodrecer o lenho e acumular danos”, avaliou o especialista. 

Ele diz que a necessidade de poda, por parte de empresas de energia, é compreensível, mas que a execução precisa melhorar muito. Existem, no país, regulações da Associação Brasileira de Normas Técnicas para o manejo de árvores urbanas. Para ele, que observou as imagens captadas pela reportagem, a concessionária realizou cortes imprecisos, que não permitem a cicatrização, e que é “nítida a ausência de um responsável técnico junto ao pé da árvore com as equipes”.

Poda responsável pode liberar fios

O trabalho referenciado pelas normas oficiais, diz o biólogo, não seria difícil de executar. É possível, para ele, realizar um manejo que não coloque o vegetal em risco e que ainda assim deixe o fio elétrico livre. O primeiro passo seria entender a biologia de cada espécie. Na quadra da Ramiro Barcelos visitada pelo prefeito, a Matinal verificou o corte de três jacarandás e dois ligustros. As podas “mutilatórias” realizadas ali, segundo o arborista, impedem a coexistência com as estruturas da Equatorial. “às vezes um ramo que está passando lateral ao fio pode seguir se desenvolvendo, basta tirar os brotos que vão em direção ao fio”, afirma Siliprandi.

A rede de fios compactos também poderia reduzir a necessidade de podas tão radicais. “A empresa deveria estar fazendo isso rapidamente, como uma solução de curtíssimo prazo, de muito menos gasto em relação, por exemplo ao enterramento de fios, que deve sim acontecer, mas com muito zelo em relação às raízes das árvores”, explica.

A prefeitura vem debatendo a atribuição das podas com a CEEE Equatorial, com intermediação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS). Na semana passada, representantes do governo e da empresa realizaram um encontro para debater o plano de trabalho. Segundo o MP, houve “avanço na construção de um acordo”, mas não forneceu mais detalhes sobre as negociações. Essas discussões vêm ocorrendo desde janeiro, depois do temporal que atingiu Porto Alegre e diversas cidades do Rio Grande do Sul.

A Matinal buscou contato com a assessoria de comunicação da Equatorial, para obter uma posição sobre a continuidade dessas podas vistas como excessivas, mas a concessionária não respondeu até o fechamento deste texto. Tampouco as secretarias de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, e de Serviços Urbanos, manifestaram-se, embora tenham sido procuradas. 


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