Reportagem

“Condição de resposta parece limitada”, avalia professor do IPH

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“Condição de resposta parece limitada”, avalia professor do IPH No Sarandi, parte de rua desabou conta da erosão causada pelo excesso de chuvas | Foto: Dmae

Sem trégua da chuva desde a madrugada, afetada por um vento sul e uma comunicação pública sem clareza para seus moradores, Porto Alegre viveu um dia de caos. Com água jorrando de bueiros da norte à zona sul, apontando que o sistema de drenagem não tem condições de drenar chuvas intensas. Em coletiva de imprensa na tarde de ontem, diretor do Dmae, Maurício Loss, negou que o sistema colapsou, esclarecendo que o sistema ainda estava operando, embora sobrecarregado. 

E o prognóstico não é lá muito favorável, com forte vento sul nesta sexta e, já na próxima semana, mais chuva sobre a capital – que há 20 dias se depara com inundações causadas porque seu sistema falhou por conta de falta de manutenção, conforme especialistas ouvidos pela Matinal no início desta crise.   

É possível, portanto, que cenas como as desta quinta se repitam em razão de uma série de fatores, especialmente o nível elevado do Guaíba e o não funcionamento pleno das casas de bomba, que tiram água acumulada da cidade. “A condição de resposta a esta situação parece estar limitada, pois estamos vendo que todos os esforços para retomar a operação das casas de bombas estão sendo tomados, inclusive com apoio de moto-bombas volantes, mas é necessário um tempo hábil para que seja retomada a capacidade plena de operação”, avaliou o professor Fernando Dornelles, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS. 

Porto Alegre tem 23 casas de bomba, das quais apenas 11 estão em funcionamento nesta sexta. E, dentre as operantes, a capacidade está reduzida em razão da lama e do lodo trazidos à cidade e aos canos pela enchente. Em nota, o Dmae informou que estão sendo realizadas limpezas e providenciados mais contratos para este trabalho. “São mais de mil quilômetros de ruas que foram atingidos pela enchente”, sustentou o órgão, por meio de sua assessoria de imprensa.

O trabalho é, de fato, importante, como corrobora o professor Dornelles, que é doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental: “Quando houver uma trégua da chuva, precisa concentrar esforços de limpeza das redes, especialmente nos trechos próximos às casas de bombas”, respaldou.

Por todo o cenário, ele acredita que Porto Alegre segue sob grande ameaça de repetição das cenas desta quinta, diante do que definiu como “uma situação péssima em que se refere ao sistema de drenagem pluvial, com nível alto do Guaíba, estações de bombeamento inoperantes ou trabalhando com capacidade reduzida – limitado pela potência dos gerados devido ao corte de fornecimento de energia elétrica para elas – e a obstrução das redes pelo lodo que veio com a inundação do Guaíba somado aos resíduos sólidos”.

O Dmae, por sua vez, manifestou-se em tom um pouco mais otimista quanto a uma possível repetição dos problemas desta quinta: “Há expectativa de que na próxima semana, mais casas de bombas estejam em operação. Se confirmando isso, o cenário deverá ser mais ameno”.

Maio já é o mês mais chuvoso da história na capital gaúcha

De acordo com a MetSul Meteorologia, com a chuva desta quinta, 23 de maio, maio de 2024 tornou-se o mês mais chuvoso da história das medições em Porto Alegre. O acumulado até o meio da tarde era de 461mm, equivalente a mais de quatro vezes a média histórica para o mês, que é de 112,8mm. Até então, o posto de mês mais chuvoso na história da cidade era de setembro de 2023, quando a precipitação foi de 447,3mm. Maio de 1941, quando da enchente histórica anterior, teve 405,5mm.

O recorde tende a ser ampliado, pois a previsão indica chuva para esta sexta e, depois, no início da semana que vem, ainda que em menor volume.

Engenheiros lançam manifesto e defendem volta do DEP

Nesta quinta, o Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul realizou coletiva para detalhar o documento “Manifestação aos porto-alegrenses sobre o sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre”, divulgado inicialmente na semana passada. O grupo destacou a importância e robustez do sistema, reiterando que a falha dele nesta enchente ocorreu por falta de manutenção. 

O documento é assinado por mais de quatro dezenas de profissionais e reúne sugestões emergenciais para o momento e para quando as águas baixarem. O texto foi entregue ao prefeito Sebastião Melo (MDB) na última sexta-feira. Presente no evento, o ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Vicente Rauber defendeu a recriação do antigo departamento, dizendo ter certeza de que o órgão seria útil para o enfrentamento da enchente.

A sugestão, conforme Rauber, foi repassada a Melo, que não sinalizou resposta sobre o assunto. 


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