Em meio a enchente histórica, secretário do Desenvolvimento Social de Porto Alegre deixa a pasta
Enquanto milhares de vítimas buscam ajuda nos abrigos da capital, Léo Voigt pede exoneração. Saída ocorre menos de duas semanas após incêndio que deixou 10 mortos em albergue contratado pela prefeitura
Abandonou o barco. Léo Voigt deixou a gestão de Sebastião Melo (MDB) em meio a uma crise sem precedentes em Porto Alegre. Em nota, a prefeitura afirmou que ele pediu exoneração nesta terça-feira do cargo de secretário municipal de Desenvolvimento Social. A pasta será assumida interinamente pelo adjunto Jorge Brasil.
Ao longo da terça-feira, chegou à Matinal uma mensagem que ele teria enviado aos servidores, dando a entender que sairia de férias:
“Caro (a) Colega,
Viajarei amanhã ao Exterior. O plano construído há um ano se revelou impostergável, apesar das emergências todas.
Jorge Brasil assume a titularidade da SMDS e peço que dispensem semelhante tratamento e inclusão a ele para mantermos, ou melhorar, nosso padrão de entregas. Jorge Brasil está pleno em todas as tarefas e conto com teu apoio a ele, e compreensão comigo.
Abraço e até a volta!
Léo Voigt SMDS”
Às 17h, a prefeitura enviou à redação a nota informando a exoneração e a sua publicação no Diário Oficial desta quarta-feira. À colunista Rosane de Oliveira, ele negou ter pedido para sair. A reportagem tentou contato com Voigt, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Uma crise atrás da outra
Não bastasse a capital ter sido invadida pelas águas do Guaíba, deixando milhares de desabrigados, no dia 26 de abril, uma pousada contratada pela prefeitura pegou fogo, matando 10 pessoas e deixando outras 15 feridas. O local faz parte da rede Garoa e recebia pessoas em vulnerabilidade encaminhadas pelo município.
Depois da tragédia, a Matinal revelou que denúncias sobre a precariedade das unidades da rede de hospedagens já eram conhecidas da prefeitura. Servidores que atuam com a população em situação de rua enviaram dezenas de fotos e relatórios sobre a situação à direção da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). O Ministério Público também já tinha investigação aberta por improbidade administrativa em contrato de uma das unidades desde o ano passado.
Em entrevista à Matinal em 30 de abril, o então secretário Léo Voigt negou que conhecia as denúncias ou mesmo o processo que tramita no MP-RS. A reportagem já havia tentado contatar a Fasc, mas a prefeitura estava indicando Léo Voigt como porta-voz para sobre o caso. Ele estava no cargo desde o início da gestão Melo.