Reportagem

Para secretária de Inclusão Digital, desafio do RS é reter mão de obra qualificada

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Para secretária de Inclusão Digital, desafio do RS é reter mão de obra qualificada Secretária Extraordinária de Inclusão Digital e Apoio às Políticas de Equidade, Lisiane Lemos. Fotos: Mauricio Tonetto / Palácio Piratini

Mentora do Google e jovem destaque na Forbes, Lisiane Lemos ƒala sobre sua missão à frente da pasta para descentralizar o acesso à inovação e democratizar os espaços para mais mulheres e negros 

Em 2017, Lisiane Lemos figurou na Forbes Under 30, lista que elenca os jovens mais promissores em diversos segmentos. Seis anos depois, ela assume a Secretaria Estadual de Inclusão Digital e Apoio às Políticas de Equidade, criada nesta gestão com o objetivo de liderar em uma área hegemonicamente masculina e branca a democratização e a descentralização do acesso à tecnologia. Ela é a única mulher negra a ocupar uma pasta no atual governo estadual.

Graduada em Direito, a gaúcha de Pelotas foi mentora no programa de startups do Google e professora no MBA de Tecnologia para Negócios da PUCRS. Também criou iniciativas como a Rede de Profissionais Negros, o Comitê de Igualdade Racial no grupo Mulheres do Brasil e o Conselheira 101, ação afirmativa sobre governança corporativa voltada a lideranças negras. Como secretária de estado, Lemos terá a missão de aproximar esses mundos. 

“Ver uma mulher, jovem, negra em uma cadeira como essa, trabalhando com tecnologia, eu espero que inspire outras minorias aqui no estado a pensar que o governo é um lugar para eles, pensar que inovação é para eles”, disse.

Durante o South Summit Brazil, Lemos apontou como principal desafio “reter as nossas mentes”. A expressão se refere à mão de obra qualificada no setor de tecnologia que, por dificuldade de expansão em um mercado restrito como o gaúcho, deixa o estado após se formar. “A gente tem um grande número de universidades, de cursos de tecnologia, mas como eu faço essas pessoas gostarem de viver aqui”, questiona.

A solução, ela mesma aponta, talvez esteja na educação ainda mais de base. “Se a gente fomenta já na escola um pensamento inovador, esses jovens podem se tornar startupeiros”, pontua.

Leia a seguir a entrevista que Lisiane Lemos concedeu ao Matinal durante o evento.

Quais os desafios e como o governo pode democratizar o acesso de mulheres e negros no mercado de inovação?

A gente tem trabalhado muito para descentralizar iniciativas e fomentar o pensamento inovador onde ele estiver. Acabei de ser jurada do HackaTchê, uma competição de tecnologia da secretaria de Educação (voltada para estudantes e professores da rede estadual). Teve 72 equipes de diversos estados. Se a gente fomenta já na escola um pensamento inovador, esses jovens podem se tornar uns startupeiros. Também (podemos) incentivar os parques tecnológicos, (lançar) editais que possam ajudar fora do eixo de Porto Alegre. Mas claro que tem um problema de que a maior parte das empresas estão aqui, as aceleradoras estão aqui. Como eu incentivo o trabalho remoto? O meu desafio é fomentar esse ecossistema inovador para atrair startups para cá. Acho que o South Summit é um exemplo do que a gente pode mostrar que tem aqui. 

E como inserir mais negros e outros perfis diversos no mercado da economia criativa?

A secretaria está coordenando 34 ações sociais para expandir esse pensamento de startup. São ações centralizadas e descentralizadas, híbridas e digitais. Tivemos um evento (Next Gen) no Araújo Vianna para 3 mil estudantes da rede pública falando de inovação. A gente está tendo a oportunidade de expandir isso e vai, através do exemplo, levar os palestrantes a essas pessoas. E também, através da representatividade, vendo uma mulher, jovem, negra em uma cadeira como essa, trabalhando com tecnologia, eu espero que inspire outras minorias aqui no estado a pensar que o governo é um lugar para eles, pensar que inovação é para eles, e a tecnologia também.

O RS tem capacidade de reunir e liderar esses ecossistemas de inovação no Brasil?

A gente está trabalhando todo santo dia para isso. O South Summit é um exemplo de como fazer a conexão com esses parques, como o Instituto Caldeira, o Tecnopuc, para se tornar esse Vale (do Silício, centro de startups nos EUA) e reter as nossas mentes. A gente tem um grande número de universidades, de cursos de tecnologia, mas como eu faço essas pessoas gostarem de viver aqui, de trabalhar de uma forma remota aqui? É o desafio, mas com certeza vai acontecer.

O que o RS tem de infraestrutura para oferecer a quem quer empreender e permanecer no estado?

Além de educação e infraestrutura, editais, linhas de crédito especiais para modernização de equipamentos. A gente tem trabalhado muito com isso no setor agro, que é o principal (setor econômico do estado). Como vou modernizar a mão de obra, principalmente da agricultura familiar? Eu acho que as empresas, e uma população que consome, que tem um alto nível de consumo, é o que atrai.

E o que falta para o RS conseguir isso?

Me surpreendeu saber que o RS tem 92% dos serviços oferecidos de forma digital, seja por aplicativos de diferentes plataformas. E por que eu fico centrada em gente e em pensamento? Porque, quando eu estava do outro lado da mesa, percebi que o problema para instalar uma empresa não é a infraestrutura. É mão de obra qualificada para trabalhar nesta empresa. Isso tem sido o meu foco. Claro que (é um problema) a infraestrutura fora de Porto Alegre, mais no interior, na zona rural. Mas quando a gente fala de tecnologia, sinto informar e vou ser sempre circular, é mente pensante, mente qualificada e pronta para esses novos desafios. 

A senhora trabalhou nos dois lados, em empresas privadas e, agora, no setor público. Como equalizar para que não se percam as empresas e haja benefício real para a população?

A gente tem algumas travas, como a própria diminuição do ICMS, que alterou nossas finanças. Um novo governo que está tomando conta, um tempo de estruturação. A gente ainda está em um momento de planejamento estratégico para descobrir como vai fazer essa equalização. Tendo vindo do outro lado, eu tenho provocado muito as empresas sobre como a gente pode trazer benefícios para a população. Eu acho que a gente pode inverter esse sentido, trazer mais empresas que têm benefício de qualificação, incentivo, aceleração de empresas de terceiro setor. Se aproximar desse setor privado que não necessariamente está aqui no RS.

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