Em sabatina, Heinze defende tratamento precoce e proxalutamida
Pré-candidato ao governo do RS pelo PP afirmou que distribuiria cloroquina e ivermectina aos gaúchos no combate à covid-19 e defendeu médico investigado pela Anvisa
Pré-candidato ao Governo do RS, o senador Luis Carlos Heinze (PP) reafirmou sua convicção no uso de remédios sem eficácia contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina, em sabatina UOL/Folha desta terça-feira. Heinze também defendeu a proxalutamida, remédio experimental para câncer testado clandestinamente em pacientes internados com covid-19 em ao menos dez hospitais brasileiros.
Perguntado se distribuiria ivermectina e cloroquina aos gaúchos para combater a pandemia, o senador disse que há médicos que preconizam o tratamento precoce e que poderá seguir a recomendação deles, caso seja eleito. “Se eles preconizarem, vou fazer. Eu não posso receitar, então os médicos vão me dizer o que fazer”, afirmou Heinze, que em seguida deu o exemplo de um dos médicos “craques” que tem como referência: o endocrinologista Flávio Cadegiani.
“Houve um assassinato de reputação. Esse rapaz criou a proxalutamida e há processos dele registrados nos EUA, em toda a Europa, na China e na Índia. Aqui no Brasil criminalizaram ele porque esquerda e direita entraram no debate”, criticou o parlamentar, errando dados.
A droga não foi criada pelo médico brasiliense, mas por uma farmacêutica chinesa. Sem registro em nenhum país do mundo por ainda estar em fase experimental, o remédio teve seus testes iniciais para covid-19 no Brasil e hoje passa por estudos financiados pela sua fabricante em alguns dos países citados pelo senador.
Anvisa interditou lotes de proxalutamida
Hoje um processo administrativo sanitário contra Cadegiani tramita na Anvisa por conta do uso de proxalutamida em desacordo com as autorizações concedidas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, a Conep. Apesar de só ter aval para testar a droga em sua clínica de Brasília, o médico distribuiu o medicamento para testes no Amazonas, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, no Hospital da Brigada Militar. O remédio também foi usado por médicos pró-tratamento precoce na emergência privada da Santa Casa, na capital gaúcha.
Desde setembro de 2021, a agência investiga o uso do remédio e sua importação por parte de Cadegiani, que teve todos os lotes importados interditados. Em nota ao Matinal, a Anvisa disse que confirmou “a entrega ao consumo dos pacientes do medicamento sem registro proxalutamida, cuja importação se deu pela clínica Flavio Cadegiani Endocrinologia e Serviços Médicos Ltda., configurando infração sanitária por descumprimento do art. 12 da Lei nº 6.360/1976”.
Entre agosto de 2020 e maio de 2021, Cadegiani importou mais de 58,9 mil pílulas da droga e de placebo, número suficiente para “testes” em ao menos 1,4 mil pessoas, considerando o protocolo usado pelo médico em um experimento realizado no Hospital da Brigada Militar. “Conforme o rito administrativo adotado pela Anvisa, foi aberto Processo Administrativo Sanitário, no qual o caso será analisado quanto a sua procedência pela autoridade autuante, considerando os princípios da verdade material, ampla defesa e contraditório, nos termos do artigo 22, § 1º, da Lei nº 6.437/1977, e posteriormente seguirá para a área da Agência responsável pelo julgamento”, disse a agência.
Por conta das importações irregulares de Cadegiani, a Anvisa revogou uma resolução que regulava a importação de remédios para uso científico no ano passado e a substituiu por outra, mais restritiva, posto que o médico teria se utilizado de uma brecha para importar quantitativos da droga acima do autorizado pela Conep.