a palavra é

Tradwife

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Tradwife

“Vou postar frase do Olavo pra parecer tradwife, pera aí.” (@Majehyy, no Twitter, em 21 de setembro)

“Sim, tornei-me tradwife. é o meu segredo. Passo o dia a cozinhar para o marido.” (@ghstdive, no Twitter, em 26 de setembro)

“Uma crescente comunidade online de mulheres está rejeitando o feminismo em favor da submissão aos homens. As técnicas utilizadas para radicalizá-la são semelhantes às utilizadas para preparar as noivas do Estado Islâmico, relata Julia Ebner. #tradwife” (@thetimes, no Twitter, em 12 de fevereiro)

O que é: 

  • Abreviação para “traditional wife” (“esposa tradicional”). A expressão pode aparecer também no plural: “tradwives”.
  • O movimento se espalhou em parte por meio de contas no YouTube e no Instagram que exaltam as virtudes de ficar em casa, preparar refeições, ter muitos filhos e submeter-se à liderança masculina.

“Intitulam-se como donas de casa tradicionais e surgem unidas no mundo virtual pela hashtag #tradwive, que funciona como uma espécie de selo de um movimento que procura recuperar a nostalgia dos idos anos 50 e do correspondente papel da dona de casa alegremente encafuada no seu reduto doméstico, abnegada e submissa, inteiramente dedicada aos filhos e ao marido, sem nunca deixar de ter a casa imaculada e as camisas sem vincos. Passando ao lado das lutas de décadas para que as mulheres pudessem votar, escolher uma profissão, ter uma conta bancária em seu nome, viajar sem ter de pedir autorização ou simplesmente dizer ‘não’ a uma investida sexual, o movimento das donas de casa tradicionais está a espalhar-se à velocidade do coronavírus por realidades tão diversas como as do Reino Unido, dos Estados Unidos, do Brasil ou do Japão, deixando um rasto de homens e mulheres feministas com os dentes cerrados de indignação.” (Público, 15 de março de 2020)

“Se você pesquisar nas redes sociais a hashtag #tradwife, encontrará imagens de pratos preparados em casa e bolos recém-assados ​​com legendas como ‘o lugar de uma mulher é em casa’ ou ‘tentar ser como um homem é um desperdício para uma mulher’. Este é o #TradWives (‘esposas tradicionais’, em tradução livre), um movimento que cresce rapidamente na internet e é composto por mulheres que promovem papéis de gênero ultratradicionais. Alena Kate Pettitt é uma delas. Ela mora no Reino Unido e diz que quer “estar submissa ao seu marido e mimá-lo como se fosse 1959”. Ela propaga sua mensagem em redes sociais e em seu blog, The Darling Academy.  Em seus artigos, Alena defende, por exemplo que ‘se você quer um casamento feliz, deve sempre colocar seu marido em primeiro lugar’. ‘Não quero que meu marido volte para casa depois de um longo dia de trabalho e precise cozinhar para mim, porque meu papel é estar em casa, meu trabalho é essencialmente fazer tarefas domésticas’, diz. O termo tradwife é controverso, principalmente nos Estados Unidos, porque possui associações com a extrema-direita. Mas muitas mulheres que se descrevem como esposas tradicionais rejeitam essa associação. Para Alena, ser uma esposa tradicional é ‘ser uma dona de casa que fica feliz em estar submissa ao marido’. ‘Muitas pessoas querem rotular o movimento e muitas vezes surgem nomes em que você nunca nem pensou’, afirma. ‘Alguém disse uma vez que esse é o tipo de esposa que promoveu o Terceiro Reich, e eu não fazia ideia disso’. Alena diz que quando era estudante, nos anos 90, não era “muito popular”. ‘Não gostava da cultura da época e definitivamente me sentia uma estranha.’ ‘As mensagens da cultura da época eram você tem que brigar com os homens, você tem que sair de casa e ser independente, sair de sua zona de conforto, mas eu sentia que nasci para ser esposa e mãe’, diz ela. ‘Me identificava mesmo com os antigos programas de TV das décadas de 1950 e 1960.’Alena cresceu em um lar sem pai. Sua mãe saía para trabalhar todos os dias e a casa, conta, era ‘um enorme fardo’ para ela. ‘Acho que ali percebi que não queria a mesma vida.’  (BBC, 1 de fevereiro de 2020)

“Uma nova tendência surgiu e é tão avassaladora quanto o New Look na moda dos anos 40 ou o surgimento da culinária mediterrânea na Grã-Bretanha dos anos 90: ser dona de casa. Você pode pensar: ‘Ummm, isso não parece TÃO novo para mim”. Mas todas as tendências da moda são reformulações, e a ‘tradwife’ é uma dona de casa com um toque de mídia social. É como trazer de volta o estilo dos anos 90, mas trocar aquele delineador marrom por contour. É muito mais zeitgeist, entende? A tradwife é uma mulher que não trabalha, cuida dos filhos, do marido, da casa e depois fala sem parar sobre como isso é bom nas redes sociais. Quem diria que ser tão tradicional também era tão moderno? E tão ocupado! Só na semana passada, houve entrevistas com esposas tradicionais no Daily Mail, no Times e na BBC, This Morning, Victoria Derbyshire e, pelo que sei, transmitidas 24 horas por dia, 7 dias por semana, em todos os canais. Eu temo que – sendo não tradicional e não esposa – não estou muito conectada com essa nova tendência.” (Hadley Freeman, no Guardian, em 27 de janeiro)

Assista o vídeo em que Alena Kate Pettitt explica para a BBC por que se tornou uma TradWife (em inglês, sem legendas):


Cláudia Laitano é jornalista, com especialização em Economia da Cultura. É mestranda em Literatura pela UFRGS, com pesquisa sobre Carlos Reverbel. É autora de “Agora eu era” e “Meus livros, meus filmes e tudo o mais”, ambos pela L&PM.

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