Memória

1949 – O lançamento de “O tempo e o vento”

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1949 – O lançamento de “O tempo e o vento” HISTÓRIA Em meados de novembro de 1949 surgia nas vitrines da Livraria do Globo o primeiro volume de O Tempo e o Vento. Uma espécie de coroamento de duas décadas de intensa atividade editorial regionalista da Editora Globo, iniciada por volta de 1931, quando Érico Veríssimo assumiu o posto de redator-chefe da Revista do Globo. Como em lançamentos especiais da Editora, a publicação foi precedida de uma espécie de marketing do novo produto da empresa. Em 6/8/1949 noticiava-se que Erico “entregou os originais (…) de seu esperado romance”.  Falava-se também de uma entrevista anterior, em que o autor confessava que este era “o livro que eu sempre desejei escrever” e onde se propunha a “dar ao leitor … uma idéia do que somos e, se possível, do por que somos” (Revista do Globo, ano XX, 6.8.1949, n. 488, p. 20). A parte mais emblemática das declarações de Érico foi a de que “meu livro não se propõe a oferecer nenhuma solução, não tem nenhum caráter didático, mas não é apolítico porque, no fim das contas, as suas personagens, na maioria, são políticas; mas é um livro apartidário. O livro não é a favor nem contra ninguém … com ele não pretendo servir nenhuma partido, a nenhuma seita” (Ibidem). Ao que parece, era um Érico se vacinando contra situações, como a de alguns anos antes, quando incluíram seu nome num manifesto Pró-Itália fascista, quando da invasão desta última à Abissínia (Correio do Povo, 21.1.1936, p. 7). Coisa que ele, junto com Mário Quintana e Telmo Vergara (também incluídos, sem consulta, no Manifesto), contestou, exigindo e obtendo do mesmo jornal um espaço para esclarecimentos e negativas (Fig. 1).     O “TEMPO E O VENTO” – REPRESENTAÇÕES Desde o seu lançamento, a força imagética de seus personagens e cenários se fez sentir em nossos artistas. Na sobrecapa da primeira edição, uma magnífica síntese do que fala o livro: três mulheres, “aguerridas e fortes”, ao que tudo indica, Ana Terra, fecundada pelo índio que “anteviu sua própria morte”, Maria Valéria, “aguda como uma lança”, e Bibiana Terra, “cozida no próprio ódio” (Revista do Globo, ano XX, 12.11.1949, n. 405, p. 21). As três anacronicamente inseridas num cenário áspero e seco como suas próprias vidas, com um umbu solitário sacudido pelo vento e, ao fundo, os homens indo pra guerra (Fig. 2).  De uma Ana Terra indianizada (Fig. 3) se encarregou Anestor Tavares (Camaquã, 1919 – Porto Alegre, 2000), enquanto da solidão e da vastidão dos campos (Fig. 4 e 5) nos falou Glauco Rodrigues (Bagé, 1929 – Rio de Janeiro, 2044), este formidável intérprete da relativa determinação geográfica na índole libertária e macambúzia de nossa ancestralidade. Fig. 1 – Erico Veríssimo, Mário Quintana e Telmo Vergara. Nota de Desagravo. Correio do Povo, 22.01.1936, p. 2. Tirado de: MARQUES, Alexandre Kohlrausch.  A questão Ítalo-Abissínia: os significados atribuídos à invasão italiana à Etiópia, em 1935, pela intelectualidade gaúcha. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2008, p. 258. Fig. 2 – Sobre capa da 1ª edição de O […]

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HISTÓRIA Em meados de novembro de 1949 surgia nas vitrines da Livraria do Globo o primeiro volume de O Tempo e o Vento. Uma espécie de coroamento de duas décadas de intensa atividade editorial regionalista da Editora Globo, iniciada por volta de 1931, quando Érico Veríssimo assumiu o posto de redator-chefe da Revista do Globo. Como em lançamentos especiais da Editora, a publicação foi precedida de uma espécie de marketing do novo produto da empresa. Em 6/8/1949 noticiava-se que Erico “entregou os originais (…) de seu esperado romance”.  Falava-se também de uma entrevista anterior, em que o autor confessava que este era “o livro que eu sempre desejei escrever” e onde se propunha a “dar ao leitor … uma idéia do que somos e, se possível, do por que somos” (Revista do Globo, ano XX, 6.8.1949, n. 488, p. 20). A parte mais emblemática das declarações de Érico foi a de que “meu livro não se propõe a oferecer nenhuma solução, não tem nenhum caráter didático, mas não é apolítico porque, no fim das contas, as suas personagens, na maioria, são políticas; mas é um livro apartidário. O livro não é a favor nem contra ninguém … com ele não pretendo servir nenhuma partido, a nenhuma seita” (Ibidem). Ao que parece, era um Érico se vacinando contra situações, como a de alguns anos antes, quando incluíram seu nome num manifesto Pró-Itália fascista, quando da invasão desta última à Abissínia (Correio do Povo, 21.1.1936, p. 7). Coisa que ele, junto com Mário Quintana e Telmo Vergara (também incluídos, sem consulta, no Manifesto), contestou, exigindo e obtendo do mesmo jornal um espaço para esclarecimentos e negativas (Fig. 1).     O “TEMPO E O VENTO” – REPRESENTAÇÕES Desde o seu lançamento, a força imagética de seus personagens e cenários se fez sentir em nossos artistas. Na sobrecapa da primeira edição, uma magnífica síntese do que fala o livro: três mulheres, “aguerridas e fortes”, ao que tudo indica, Ana Terra, fecundada pelo índio que “anteviu sua própria morte”, Maria Valéria, “aguda como uma lança”, e Bibiana Terra, “cozida no próprio ódio” (Revista do Globo, ano XX, 12.11.1949, n. 405, p. 21). As três anacronicamente inseridas num cenário áspero e seco como suas próprias vidas, com um umbu solitário sacudido pelo vento e, ao fundo, os homens indo pra guerra (Fig. 2).  De uma Ana Terra indianizada (Fig. 3) se encarregou Anestor Tavares (Camaquã, 1919 – Porto Alegre, 2000), enquanto da solidão e da vastidão dos campos (Fig. 4 e 5) nos falou Glauco Rodrigues (Bagé, 1929 – Rio de Janeiro, 2044), este formidável intérprete da relativa determinação geográfica na índole libertária e macambúzia de nossa ancestralidade. Fig. 1 – Erico Veríssimo, Mário Quintana e Telmo Vergara. Nota de Desagravo. Correio do Povo, 22.01.1936, p. 2. Tirado de: MARQUES, Alexandre Kohlrausch.  A questão Ítalo-Abissínia: os significados atribuídos à invasão italiana à Etiópia, em 1935, pela intelectualidade gaúcha. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2008, p. 258. Fig. 2 – Sobre capa da 1ª edição de O […]

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