Manifesto | Memória

Lugares de Memória do Museu de Percurso do 3º e 4 Distritos: O Cine-Theatro Navegantes

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Lugares de Memória do Museu de Percurso do 3º e 4 Distritos: O Cine-Theatro Navegantes Cine-theatro Navegantes

Sobre o Museu de Percurso:

O Museu de Percurso do 3º e 4º Distritos de Porto Alegre é uma iniciativa que nasceu na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, com o objetivo de divulgar e preservar a memória e o patrimônio das antigas regiões industriais de Porto Alegre, que faziam parte dos 3º e 4º Distritos da capital gaúcha e que hoje estão localizadas nos bairros Independência, Floresta, São Geraldo, Navegantes, São João, Humaitá e Farrapos. Um dos marcos inaugurais dessa iniciativa foi um encontro, ocorrido no dia 12 de dezembro de 2023, que reuniu mais de cinquenta pessoas no Centro Cultural Vila Flores para avaliar os problemas e pensar soluções para este território. A partir dos debates realizados, do diálogo com a comunidade e do trabalho de pesquisadores e pesquisadoras, foi elaborado o “Manifesto em defesa da memória social e do direito à cidade nas antigas regiões industriais de Porto Alegre (3º e 4º Distritos)”. Convidamos todas as pessoas a ler, discutir, divulgar e assinar este manifesto, para que ele se torne também um instrumento que ajude a questionar o presente e propor soluções para o futuro de nossa cidade.

Para ter acesso ao Manifesto na íntegra, clique aqui
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O Cine-Theatro Navegantes

Inaugurado em 1923, o Cine-Theatro Navegantes foi um importante espaço de lazer e socialização da classe operária do 4º Distrito durante a primeira metade do Século XX. Na década de 1920, tanto o 3º quanto o 4º Distrito já contavam com salas de cinema de tamanho considerável, como o Cinema Colombo (1914) e Cine Theatro Talia (1917), localizados nas zonas mais residenciais da região. Todavia, o Cine-Theatro Navegantes destacou-se por estabelecer-se no núcleo da zona industrial da região, à poucas quadras de importantes fábricas do período como a FIATECI (1893), Fábrica de Móveis Gerdau (1916), o Moinho Chaves (1920) e posteriormente a Neugebauer (1936), que construiria sua gigantesca fábrica bem em frente ao cinema. Assim, desde o princípio este foi um espaço de forte vinculação com a classe trabalhadora, o que explica o fechamento da sala no mesmo período da debandada das indústrias locais. 

Apesar do que se possa imaginar, a vinculação com o proletariado não fazia deste um espaço menor ou de baixa qualidade, muito pelo contrário. Era tipicamente um Cine-Theatro, ou seja: foi construído para receber não apenas exibições de filmes, mas também orquestras e peças de teatro. O projeto foi de autoria de H.C. Schubert, um construtor de origem germânica que possuía escritório na Rua Voluntários da Pátria e que já havia trabalhado em projetos de palacetes burgueses na cidade. Sua arquitetura seguia a linha da maioria dos cinemas locais da época, com fachada bastante ornamentada incorporando figuras antropomórficas do classicismo (musas e esfinges) e motivos florais. Embora o edifício possa ser caracterizado como de Arquitetura Eclética, o predomínio das formas barrocas incorporadas à composição faz com que o conjunto se assemelhe bastante a Arquitetura Neocolonial, fato reforçado pela ênfase na frontalidade da fachada na Avenida Cairu, onde se dava o acesso principal.

Internamente o espaço era dividido em três setores sequenciais: um foyer (ou sala de espera), plateia e palco. O foyer era bastante estreito, o que poderia significar que a concentração do público antes dos espetáculos se dava majoritariamente na calçada. Em um dos cantos deste primeiro espaço, uma escadaria levava a um segundo pavimento, onde ficavam áreas privativas e a sala de projeção. Duas pequenas escadarias no eixo das portas principais conduziam para a plateia. Esta era dividida em nove setores e possuía ao todo 1089 lugares. A composição do palco era típica de um Cine Teatro: o palco, mais alto em relação a plateia, possuía salas de apoio laterais que eram utilizadas durante espetáculos teatrais. O palco em si era pequeno, medindo aproximadamente 7,00 metros de largura por 5,00 metros de profundidade. Completava a composição, em frente ao palco, um fosso para orquestra.

O Cine-Theatro Navegantes funcionou neste mesmo espaço até meados dos anos 1970, quando teve suas atividades encerradas em definitivo. Nos anos seguintes o prédio abrigou os mais diversos usos, entre depósitos e pequenas fábricas, modificando completamente o espaço interno e descaracterizando bastante suas fachadas. No final dos anos 1990, as janelas e portas já haviam sido quase que completamente fechadas, restando apenas alguns vãos alargados para entrada de caminhões. Ainda assim, entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000 o edifício foi listado como Imóvel Inventariado de Estruturação, ou seja, como edificação a ser preservada ao menos externamente pelo seu valor histórico e artístico. Porém, mesmo com tal proteção legal, em 2016 parte do frontão da fachada da Avenida Cairu foi demolido para a construção de um novo telhado, mutilando ainda mais este edifício que já foi símbolo de lazer e cultura no 4º Distrito.

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