Pênaltis
Primeiros anos da década que recém começara, com expectativas mil na área da política e apenas alguns anos para entrarmos num novo milênio. Ainda não tinha carros e skates voadores, a Seleção Brasileira de Futebol tinha sido eliminada pela Argentina na Copa de 1990, O Silêncio dos Inocentes e o Exterminador do Futuro 2 chegavam às telas dos cinemas, o grunge tomava corpo como tendência de moda e música, Jorge Ben (depois Jor) voltava as paradas com “W/Brasil” e Daniela Mercury alavancava a axé music. Tudo isso não era nada frente à expectativa de jogar uma bola. E no Infantil das categorias de base do Sport Club Internacional, passando pro Juvenil, comecei a constatar que lá eu perdia muito do prazer de jogar bola como eu jogava com os amigos, e nas peladas com gente desconhecida, mesmo as mais pegadas, competitivas, por alguma medalha barata, ou mesmo pela honra e pelo prazer de fazer um golaço, ou um gol chorado, um drible desconcertante, um domínio de bola perfeito. O tipo de entendimento futebolístico da escolinha, com viés e perspectiva profissional, começou a ser um fardo pra mim. Um dilema.
Já na categoria Infantil o processo de “profissionalização” começa a criar um corpo, seja no tipo de treinamento, seja na ideia de postura de atleta, seja no estimulo mercadológico de despontar cedo, ir jogar na Europa e ser um profissional bem sucedido. Pra isso teria que seguir a disciplina que o esporte exige, mas sobretudo a adequação a um sistema.
Acontece que existem várias variantes nesses processos humanos e sociais. E esse entendimento entre disciplina esportiva, tática, técnica, psicológico, ética, e a disciplina de seguir mandamentos intrínsecos ao futebol enquanto negócio econômico e o confronto de guerra, a coisa fica nebulosa. Na verdade as duas coisas se chocam. E claro que só na minha fase adulta, e muito mais quando cursei Licenciatura em Música, pude perceber que não tinha um senso co-educacional na prática. E não se valer do esporte como elemento educacional é uma lástima, e um desserviço à sociedade que muitas instituições e muitos adultos insistem em praticar. Pode até ser que tenha nas diretrizes burocráticas dos clubes, num arquivo. Mas na prática, crianças e adolescentes não eram conduzidas a uma boa prática do esporte.