Memória

Umas lembranças

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Umas lembranças
Conheci o Aníbal em 1966, quando ele devia ter uns 30 anos, e eu era uma guria de 10, recém-chegada com a família à Travessa Luiz Rossetti, na Azenha, onde fomos morar quase em frente à casa onde ele morava com os pais.  Minhas lembranças dele então são muito antigas e aguadas, mas é claro que o Aníbal sempre foi um tipo inesquecível, mesmo aos olhos da criança encabulada que eu era.  Nossa mãe adorava a Dona Margarida, mãe do Aníbal. Ela ia muito lá em casa, trazendo sempre uma piada nova, era uma figura divertidíssima e luminosa. Lembro dela chegando no portão, comentando com a minha mãe, fingindo espanto: “Mas tu vê que que barbaridade, né, gente que nunca morreu tá morrendo!” Vê-se que o senso de humor do Aníbal vinha do berço. Hoje fico pensando na pessoa rara que ele era, mesmo. Já era um adulto madurão naquele tempo, envolvido em tantos projetos, mas sempre prestava uma atenção gentil em cada um ao redor dele, até naquela criança envergonhada que ia pegar romancinhos de amor emprestados na casa da mãe dele. Quando o Aníbal soube que eu, aos 13 anos, me interessava por teatro, deu um jeito de me apresentar ao Antonio Carlos Sena para que eu fizesse uma ponta em um filme. Depois, quando soube que eu queria fazer Jornalismo, sempre que cruzava comigo na calçada puxava um assunto de intelectual, de gente grande. Coisa que eu estava longe de ser, mas que o ser humano generoso que ele era, em sua fineza, tentava reconhecer em mim.   Quando leio hoje os depoimentos dos tantos milhares de alunos que ele inspirou, fico pensando no poder da delicadeza quando se junta com a curiosidade pelas pessoas, como se juntava nele. Salve, Aníbal, grande figura.   Gilka Girardello – Jornalista, professora da UFSC

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