Elvirita, ciruela salvaje
Elvirita Magnano, se viva, faria hoje 97 anos. Morou (morreu) anônima entre nós, ainda que tivesse sido uma das grandes vozes do bolero nas décadas de 40 e 50, época em que gravou dezenas de discos, em sua maior parte com o formidável acompanhamento de orquestras, em especial o da Orquestra Magnorama, de Manzanillo, regida pelo célebre maestro Óscar Tanús, o Óscar del Bastón. Com ele, Elvirita conheceria dois infernos: o do conhaque e o do ciúme, que aos poucos foram erigindo um único e irrespirável inferno.
Conhaque
Quanto mais bebia, mais o conhaque em Óscar construía escadarias, antessalas, corredores, quartos, águas-furtadas, porões, sótãos e de novo escadarias e de novo antessalas em um complexo fractal por onde circulava a quentura viscosa e que era seu corpo, um corpo de luta erguido em conhaque para a luta do ciúme.
Ciúme
Quanto mais pensava, mais o ciúme em Óscar construía cenas à beira de um lago, ou em um conjunto de árvores paralelo a uma rodovia, ou em uma mesa de um pequeno gazebo, ou sob a lua em Cajamarca, Salvador, Fort Lauderdale ou Rosário, cenas sempre filmadas de cima, com a grande grua do ciúme a vasculhar cada detalhe, cada ferida no reboco, cada ruga na toalha, cada tremor de tormenta no vento calmo da madrugada.
Ciruela salvage
[Continua...]