SóNós #10
AÍ É LER? RELEIA!
Entre os inúmeros casamentos mais que perfeitos nas artes, um deles é entre a literatura palindrômica e as artes gráficas. Quando um palindromista e um desenhista juntam seus talentos, dessa união surgem imagens onde uma expressão reforça a outra, e o efeito impacta muito mais os leitores. Se de um lado há talentos do teclado (escritores, poetas, dramaturgos, linguistas, filósofos, redatores publicitários, etc.) e se do outro há talentos gráficos (cartunistas, chargistas, quadrinistas, caricaturistas, ilustradores, etc.), no meio só pode haver intercâmbio de surpresas. Essa bem-vindíssima parceria de recursos pode tanto acrescentar upgrade a um palíndromo simplesinho quanto potencializar o brilho de um excelente palíndromo.
O desenho sempre oferece camadas a mais de leitura à frase palindrômica. E, na maioria dos casos, incluir um toque de humor, ironia ou lirismo, que o palíndromo original pode até nem conter. Esse valor agregado – desculpem o clichê – entre ambas as artes é tão apreciado que o concurso palindrômico mais importante dos EUA – o SymmyS – tem uma categoria concorrente, de palíndromos visuais. Sem falar nos incontáveis e admiráveis autores que praticam e se destacam em ambas facetas – escribas que desenham e criam seus próprios palíndromos ou desenhistas que também elaboram suas frases palindrômicas. Por valorizar a singular soma das palavras pra lá e pra cá com os traços que as rodeiam, guardamos essa cereja pro bolo final desta série de 10 artigos sobre palíndromos. Graças à hospitalidade editorial da versátil Parêntese pudemos montar esse inédito painel numa revista eletrônica.
A seguir, a seleção de autores e artistas da vez. O mais difícil nessa última vitrine palindrômica foi ter que limitar o volume de trabalhos. Porque, como se viu nos 9 capítulos anteriores, a palindromia não tem limites.
Adão Iturrusgarai (1965/Cachoeira do Sul/Brasil). Vive e atua desde a Argentina. Cartunista, quadrinista e artista visual. É colaborador da Folha/SP e outros veículos. Sua arte pode ser vista no site do autor.
Anthony Etherin (1981/Shropshire/Inglaterra). Poeta, escritor experimental, editor, podcaster, palindromista, anagramista e músico. Para acompanhar seus palíndromos, acesse o twitter do autor.
Antonio Eder (1971/Curitiba/Brasil). Quadrinista, artista gráfico, editor e autor de fanzines. É palindromista e em 2012 lançou seu livro sobre o assunto, O Breve Verbo. Para conhecer mais da sua arte, acesse o blog do autor.
Barry Blitt (1958/Quebec/Canadá). Vive e atua nos EUA. Chargista e ilustrador, é colaborador do jornal New York Times e da revista New Yorker. Sua arte pode ser vista no site do artista.
Bob Thaves (1924-2006/Burt/Iowa/EUA). Quadrinista criador da série Frank & Ernest, que estreou em 1972 e é publicada em 1200 jornais ao redor do mundo. Em inglês, os nomes da dupla são homófonos: “frank” (honesto) e “earnest” (sério). Depois da morte do autor, a tira passou a ser desenhado pelo filho, Tom Thaves. Para curtir, acesse o site Frank and Ernest.
David Chelsea (1959/Portland/EUA). Caricaturista e ilustrador, é colaborador de centenas de publicações, incluindo The New York Times, The Wall Street Journal, Chicago Tribune etc. Sua arte pode ser vista no site do artista.
William Irvine e Steven Guarnaccia são, respectivamente, um professor de filosofia e escritor, e um ilustrador e designer, ambos americanos, colaboradores do site O. Henry. Esse cartum é parte do artigo “Uma Paixão Por Palíndromos”. Para ver os demais cartuns, acesse O. Henry Magazine.
John O´Brien (1953/Filadelfia/Pensilvânia/EUA). Ilustrador e cartunista, colaborador da revista New Yorker, da Esquire e do jornal New York Times, entre tantas outras publicações. Para ver suas criações, acesse o site do autor. Esse cartum do canal do Panamá está à venda na Allposters.
Jon Agee (1960/Nyack/NY/EUA). Cartunista, ilustrador e autor de 24 livros infantis e 10 de jogos de palavras, com 5 sobre palíndromos. Também produz pôsteres e animações. Para ver seu acervo, acesse o site do autor.
Jon Carter (não localizamos dados biográficos). Cartunista americano, colaborador de dezenas de jornais e revistas, além de autor de uma dúzia de livros. Para conhecer mais seu trabalho, acesse o site do autor.
Laerte (1951/São Paulo/Brasil). Uma das mais importantes artistas gráficas do país, é chargista, cartunista, quadrinista, ilustradora e roteirista. É colaboradora fixa do jornal Folha de São Paulo e já publicou em vários jornais e outras tantas revistas. Para conferir décadas do seu acervo, acesse o site da autora.
Liniers (1973/Buenos Aires/Argentina). É quadrinista, autor da tira Macanudo, tem mais de 10 livros, e colaborador dos jornais Página/12 e La Nación, além de várias revistas. Para conferir sua arte, acesse o blog do autor.
Marco de Angelis (1955/Roma/Itália). É jornalista, cartunista, chargista, ilustrador de livros infantis e colaborador de jornais internacionais. Para conhecer melhor seu trabalho, acesse o site do autor.
Ota (1954-2021/Rio de Janeiro/Brasil). Otacílio Costa d’Assunção Barros foi cartunista, quadrinista e editor. Atuou em várias editoras e foi o responsável pela versão brasileira da revista Mad, onde editou mais de 300 números. Para relembrar sua arte, acesse o site do autor.
Paul Karasik (1956/Washington/EUA). É cartunista e ilustrador e professor, além de colaborador dos jornais New York Times, Washington Post e da revista New Yorker. Como autor de livros, já venceu duas vezes o Eisner Award; Para conhecer mais a sua arte, acesse o site do autor.
Piraro (1958/Kansas City/Missouri/EUA). É cartunista e pintor, autor da seção Bizarro, distribuída para centenas de jornais. Publicou quase 20 coletâneas de cartuns e ganhou alguns prêmios. Para ver mais do seu trabalho, acesse o blog do autor.
E assim chegamos ao final dessa jornada em 10 capítulos pelo estranho mundo dos palíndromos e seus ainda mais estranhos cultores.
Começamos pela nossa relação pessoal com palíndromos (SóNós #01), depois uma breve história deles (SóNós #02), os diferentes tipos (SóNós #03), em outros idiomas (SóNós #04), como e por que fazer palíndromos (SóNós #05), uma bibliografia para palindromistas (SóNós #06), eventos relativos à palindromia (SóNós #07), palíndromos no cinema e na literatura (SóNós #08), músicas, marcas e produtos palindrômicos (SóNós #09) e finalmente cartuns palindromáticos (SóNós #10).
Quem chegou conosco até aqui possivelmente precise se tratar, tanto quanto nós. É provável que tenha começado a buscar insuspeitas simetrias em palavras, frases, placas de automóvel e até em cores de bandeiras ou espetinhos de xixo. E certamente deve estar se perguntando: peraí, o final não tinha que ser igual ao começo?
Mas todos nós sabemos que não. Desde Heráclito entendemos que não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, com a termodinâmica aprendemos que o moto perpétuo só existe na terra plana, e nem precisamos do Lulu Santos pra perceber que nada do que foi será. A volta nunca é igual à ida. A não ser nos palíndromos.
Talvez por isso seja tão interessante a busca por essa simetria impossível, se não na vida, pelo menos numa frase com um fiapo de significado. No fim das contas trata-se de um jogo de palavras, um dos mais divertidos que existem. E palavras certamente estão entre as coisas mais legais que a humanidade já inventou.
Daí concluímos:
Adorar palavras? Usar! Vá lá pra roda.
(Giba)
REZA, LETRA: O PAPEL É PAPO, ARTE, LAZER.
(Fraga)
A seguir, as duas últimas seleções de palíndromos do Giba e Fraga, a dupla de palindromistas de plantão na sempre admirável Parêntese.
6 Palindromos Sortidos do Giba
Ou tu me atas e do nosso nó desabamos, ou o som, a base do nosso nó, desata: é mútuo.
É maio. De traje sedoso, desejar-te doía-me.
Ato de não ser, amar é só anedota.
Amo, temo: ânsia, medo de tragar-te do demais não me toma.
Ah, na mão, despi-la!
Copa ali: fã?
Nada cedo: mega-fã.
Gemo (década na fila):
Apocalipse do amanhã.
5 Palíndromos Sortidos do Fraga
ANA MOSER: ELA VIVE FIEL A TI, VÔLEI,
ELO VITAL. EI, FÉ VI VALER, É SOM: ANA!
(Inspirado na campeoníssima atleta deste esporte)
AME-O, PILLAR. OLFATO NOTA FLORAL. LI POEMA.
(Para Patrícia Pillar e Luis Fernando Verissimo, musa e autor)
OPÔS: SOM EU TATUO, O CARBONO
NO BRAÇO. OU TATUEMOS SÓ PÓ.
(Inspirado na arte do tatuador Diego Bez Batti)
EVA, USE, LÊ: PEREBA SARE. VÊ: OLÁ, HÁ BELEZA SOB
A BABOSA. ZELE. BAH, ALOE VERA: SABER É PELE SUAVE.
(Inspirado nos botânicos Carl Linnaeus (em 1753), Nicolaas Laurens Burman (em 1768) e Philip Miller (1768), que descreveram a espécie em diferentes épocas)
(Puizé, a gente se vai, mas qualquer dia volta. MIFU: FIM!)