Pequenas ficções

Votar é preciso

Change Size Text
Votar é preciso

Cheguei atrasado para prestar atendimentos em meu escritório de advocacia trabalhista, situado no Centro Histórico de Porto Alegre. Era véspera do segundo turno das eleições presidenciais, e as ruas estavam tomadas de manifestantes que se dividiam nos apoios a um ou outro candidato. 

Penso que nunca ocorreu uma eleição tão acirrada como esta de 2022, pelo menos que eu lembre. As pesquisas apontavam uma discreta vantagem em favor do meu candidato, mas era preciso continuar convencendo as pessoas a votarem nele, e ficar atento às possíveis manobras eleitoreiras e ilegais por parte do adversário, o presidente da República e candidato à reeleição.

Ao final de cada atendimento eu entregava um panfleto (o famoso santinho) com a foto do Lula, e iniciava uma conversa sobre a eleição. Em geral os trabalhadores ou trabalhadoras confirmavam seu apoio, uns mais e outros menos entusiasmados.

Foi então que atendi o Gregório, servente de pedreiro, morador da Vila Sapo, que veio reivindicar alguns direitos. Anotei a sua reclamatória e, ao final, deu-se o seguinte diálogo:

─ Mudando de assunto, já estás decidido em quem votar no domingo?

─ Sim, doutor. Mas não vou votar nesse seu candidato.

─ Por quê, seu Gregório?

─ O Pastor falou lá no culto que se o Lula ganhar a eleição, vai tirar os terrenos das pessoas. 

─ Me diz uma coisa, tu tens algum terreno que ele possa tomar?

─ Não tenho! Mas, um dia eu quero ter.


Doutor Severo 

;
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.