13ª Bienal do Mercosul ocupa museus da Praça da Alfândega e Casa de Cultura Mario Quintana

Espalhada por mais de dez espaços da cidade, a 13ª Bienal do Mercosul, que acontece até 20 de novembro, tem ampla presença no Centro Histórico de Porto Alegre. Dando sequência à série de matérias com destaques da exposição – relembre a primeira, que apresentou obras exibidas no Armazém A6 do Cais do Porto e na Fundação Iberê –, percorremos a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), o Farol Santander, o MARGS e o Memorial do RS.

Corpo e tecnologia no Farol Santander

O artista mexicano Rafael Lozano-Hemmer ocupa a maior parte do térreo do Farol Santander com trabalhos que exploram questões ligadas ao corpo. Em Pulse Topology, o visitante interessado em participar da obra pode colocar a mão sob sensores suspensos e ter sua pulsação captada. Durante a interação, caixas de som e parte das três mil lâmpadas da instalação reproduzem a frequência do pulso do participante. Cada pulsação captada é armazenada e segue sendo reproduzida em uma das lâmpadas. Em uma das galerias laterais, Lozano-Hemmer contextualiza Pulse Topology com uma linha do tempo de projetos artísticos que também utilizaram a pulsação.

Em Thermal Drift, outra obra do mexicano, é possível visualizar a dispersão do calor corporal captado por uma câmera térmica e exibido numa tela vertical. “As câmeras térmicas, cada vez mais usadas em contextos policiais e militares, são instrumentos ilustrativos da assimetria de poder ao qual corpos são sujeitos, com raras oportunidades desses corpos se verem. Nesses usos, o calor humano, assinatura essencial, indicativa de vida, se torna um alvo, colocando essa vitalidade em risco”, reflete o artista.

As reflexões de Lozano-Hemmer sobre a materialidade dos corpos dialogam com Templo Orbital, do paulista Edson Pavoni, que convida os visitantes a acessarem um site e enviarem o nome de algum ser – humano ou não – já falecido. Em fevereiro de 2023, a obra será lançada pelo foguete Falcon9, da SpaceX, que orbitará a Terra por cerca de 10 anos. “Nossas crenças sobre o que acontece após a morte moldam o nosso dia a dia”, observa Pavoni, apontando uma das motivações do projeto.

O Farol Santander exibe também Irma to Come in Earnest, do alemão Julius von Bismarck. Com imagens em preto e branco desaceleradas, o vídeo apresenta o impacto do furacão Irma (categoria 5) na cidade de Nápoles, Flórida (EUA), em 2017. Ao alterar a velocidade dos registros, o artista busca refletir sobre a estética e o consumo de imagens de eventos naturais catastróficos – estabelecendo interlocução com as obras de Lucas Dupin e Sigismond de Vajay no Cais do Porto.

Marina Abramovic é destaque no MARGS

The Pixelated Revolution, do artista libanês Rabih Mroué, exibida no MARGS, também debate os fluxos e o consumo de imagens. No vídeo – que remete aos trabalhos do cineasta alemão Harun Farocki –, Mroué investiga imagens obtidas com telefones celulares durante a guerra civil da Síria – algumas delas possivelmente registrando a morte dos próprios autores das gravações.

Ainda no térreo do MARGS, é possível assistir à videoperformance Seven Deaths, da sérvia Marina Abramovic. Com mais de uma hora de duração, o vídeo com requintes de megaprodução exibe a artista encenando sete mortes prematuras, tendo como trilha sonora árias interpretadas pela soprano Maria Callas – incluindo Madame Butterfly, de Puccini, e Norma, de Bellini.

No segundo andar do MARGS, uma galeria inteira é dedicada à guinada terapêutica da mineira Lygia Clark na década de 1970. Em parceria com a Associação Lygia Clark, a 13ª Bienal reproduz objetos relacionais que eram usados em suas práticas e transcrições de diários das sessões conduzidas pela artista, que duravam uma hora e eram realizadas no apartamento de Clark. O método foi aplicado pela artista até sua morte, em 1988.

A atuação terapêutica de Clark foi uma das inspirações para a videoinstalação DSÍ-embodyment, dirigida pela baiana AnaVitória e pela carioca Letícia Monte, com performance da carioca Carolyna Aguiar. No espaço ocupado por três projeções, “o corpo performativo debate-se em uma constante luta de vir a ser o que é, desventrando-se em uma dança-luta-ritual curativa e imemorial”, descreve o trio de artistas.

O MARGS exibe ainda nova exposição do projeto Acervo em Movimento com obras que convergem com a temática Trauma, Sonho e Fuga da 13ª Bienal do Mercosul.

Na Casa de Cultura Mario Quintana, narrativas íntimas ganham evidência

O vídeo Por Favor Leiam para que Eu Descanse em Paz, de Anna Costa e Silva e Nanda Félix, exibido na CCMQ, parte de registros de saúde mental e de correspondências da avó de Félix – sobre temas como solidão, opressão no casamento e uma passagem por uma clínica psiquiátrica para tratar depressão pós-parto – para promover a escuta de relatos íntimos de outras mulheres.

A CCMQ também reúne vídeos da performance coletiva Quase-oração, realizada em lives para homenagear as vítimas da pandemia e seus familiares por meio da enunciação do número crescente de mortes, que se tornou rotineiro nos noticiários desde 2020.

Na cúpula da CCMQ, o Farol dos Segredos, do paulista Carlos Nader, transmite segredos do público por meio de sinais de código Morse enviados por um holofote, de terça-feira a domingo, das 19h às 21h. “Você pode fazer o relato de um grande segredo da sua vida. Este relato será feito de forma anônima. Não haverá cadastro nem registro. Ninguém aqui saberá quem você é”, explica o texto do site criado para compilar os segredos.

Memorial do RS exibe retrospectiva dos 25 anos da Bienal do Mercosul

O público pode reviver um pouco da história do evento na mostra Trajetórias: 25 Anos da Bienal, que traça uma retrospectiva das 12 edições anteriores, reunindo obras, catálogos, imagens e documentações da Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre desde 1997.

“Trajetórias é o resultado concreto de uma confluência de interesses. Por um lado, nossa vontade, enquanto parte da equipe de produção há algumas edições da Bienal, de entender mais sobre a história da instituição da qual fazemos parte. Por outro, o desejo do curador-chefe desta edição, Marcello Dantas, de celebrar os 25 anos de existência da Bienal do Mercosul”, explicam a coordenadora de produção da 13ª Bienal, Carolina Grippa, e Taís Cardoso, produtora da mostra Transe, exibida pela Bienal no Instituto Caldeira.

Confira os espaços que abrigam obras da 13ª Bienal do Mercosul, todos com entrada gratuita até 20 de novembro

Arte urbana
Locais: avenida Borges de Medeiros; Largo Moacyr Scliar, ao lado da Usina do Gasômetro; Travessa dos Cataventos e cúpula da Casa de Cultura Mario Quintana

Cais do Porto | Armazém A6 
Local: avenida Presidente João Goulart, 158 (entrada pelo Embarcadero)
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 19h (última entrada às 18h)

Casa da Ospa
Local: avenida Borges de Medeiros, 1501
Funcionamento: segunda a sexta, das 8h às 18h

Casa de Cultura Mario Quintana
Local:  rua dos Andradas, 736
Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 20h

Farol Santander
Local: Praça da Alfândega
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 19h (última entrada às 18h)

Fundação Iberê Camargo
Local: avenida Padre Cacique, 2000
Funcionamento: quinta a domingo, das 14h às 19h (última entrada às 18h)

Instituto Caldeira
Local: rua Frederico Mentz, 1606
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 19h (última entrada às 18h)

Instituto Ling
Local: rua João Caetano, 440
Funcionamento: terça a sábado, das 10h30 às 20h

MARGS
Local: Praça da Alfândega
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 19h (última entrada às 18h)

Memorial do Rio Grande do Sul
Local: Praça da Alfândega
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 19h (última entrada às 18h)

Paço Municipal 
Local: Praça Montevidéu, 10
Funcionamento: segunda a sexta, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h

Mais informações no site da Bienal do Mercosul.