Encontros e orixás pelo olhar de Pierre Fatumbi Verger
O MARGS dá início à programação de comemoração de seus 70 anos – que se completam em julho de 2024 – com duas exposições de Pierre Fatumbi Verger (1902 – 1996) realizadas em parceria com a Fundação Pierre Verger. Orixás e Todos Iguais, Todos Diferentes? apresentam retratos de um percurso em que a vida e a arte do fotógrafo, etnólogo, antropólogo e escritor francês se confundem.
“É uma exposição do francês Pierre Verger que se transformou em Fatumbi, mergulhou em uma cultura não ocidental e acabou vivendo e falecendo em um bairro popular de Salvador”, afirma o curador francês Alex Baradel. “Essa trajetória é importante para entender a proximidade entre a vida e a obra de Verger. Ele não fotografava pessoas para mostrá-las na Europa. A fotografia era um meio de encontro, e não um objeto de pesquisa”, completa Baradel, que também foi curador de O Brasil de Pierre Verger, que o MARGS exibiu em 2007.
“A ideia daquela exposição era trazer um recorte então novo sobre a obra fotográfica de Pierre Verger no Brasil, mostrando temáticas do interior da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro, fugindo um pouco dos caminhos mais clássicos e ligados à cultura afro-baiana, pela qual ele é mais conhecido”, recorda o curador, que desde 2001 é responsável pelo acervo fotográfico da Fundação Pierre Verger – e foi parar na Bahia no final dos anos 1990, quando produzia um CD-ROM cultural sobre Verger para uma empresa francesa.
Desta vez, as influências culturais e religiosas entre África e Bahia ganham destaque na mostra Orixás, que apresenta uma seleção de fotografias do livro homônimo publicado em 1981 e reeditado em 2018 pela Fundação Pierre Verger – à venda no MARGS.
As imagens são fruto da imersão do fotógrafo no universo do candomblé, a partir de seu desembarque em Salvador em 1946, e de sua investigação sobre a história e mitologia dos orixás nas religiões afro-brasileiras, bem como sua ancestralidade iorubá em territórios que hoje correspondem a países como Nigéria, Benim e Togo, ressaltado influências culturais e religiosas recíprocas a partir da diáspora africana resultante do tráfico escravagista.
O interesse pela religiosidade de matriz africana levou Verger à África em 1948. Dois anos mais tarde, ele se tornou pesquisador do Instituto Francês da África Negra, aprofundando seus estudos sobre a cultura dos povos iorubás e seus descendentes. Em 1953, foi rebatizado com o nome Fatumbi, que significa “nascido de novo graças ao Ifá”. Tornou-se babalaô e figura importante em terreiros de Salvador – além das fotografias, a exposição também traz um depoimento de Mãe Stella de Oxóssi (1925 – 2018), ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.
Já em Todos Iguais, Todos Diferentes? – que já passou pelo Museu de Arte do Rio (MAR) e Museu da Imagem e do Som (São Paulo) –, o MARGS apresenta retratos em grande formato produzidos por Verger ao longo de mais de 40 anos de viagens pelo mundo. Nas sequências de imagens das folhas de contatos exibidas na mostra, é possível ter uma ideia dos processos de aproximação entre o fotógrafo e seus personagens. A exposição também conta com uma projeção audiovisual de retratos apresentados simultaneamente à leitura dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e depoimentos de artistas, intelectuais e militantes.
“Verger não era um ativista, não atuava para se inscrever em movimentos artísticos ou do pensamento, mas era um visionário ao enxergar a potência de outras culturas e se construir através delas”, observa Baradel.
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“Orixás” e “Todos Iguais, Todos Diferentes?”, de Pierre Fatumbi Verger
Onde: MARGS (Praça da Alfândega, s/n – Centro Histórico – Porto Alegre)
Visitação: até 8 de outubro de 2023
Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h)
Entrada gratuita