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“O Oficial e o Espião” revive célebre caso de antissemitismo

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“O Oficial e o Espião” revive célebre caso de antissemitismo
Roman Polanski é um dos maiores nomes do cinema contemporâneo. Responsável por obras-primas como Repulsa ao Sexo (1965), O Bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974), O Inquilino (1976) e O Pianista (2002), o diretor é célebre pela fluência narrativa de seus filmes, pela inteligência com que explora os recursos do cinema de gênero e pela sensibilidade em desenvolver os aspectos dramáticos das histórias, entre outras qualidades. O cineasta é famoso também pela vida pessoal turbulenta, que inclui acusações de abuso sexual de garotas menores de idade e uma condenação pela justiça: em 1977, o polonês foi declarado culpado pelo estupro de uma menina de 13 anos na Califórnia – pena que cumpriu parcialmente, antes de fugir para a França depois que a sentença foi aumentada. Por causa disso, Polanski não pode pisar nos Estados Unidos: a ordem de prisão segue válida. Recentemente, a ex-atriz francesa Valentine Monnier disse que foi estuprada por ele aos 18 anos – e outras mulheres revelaram também ter sido violadas pelo realizador quando eram menores. Esse histórico, que nos últimos anos costuma ser lembrado com maior ou menor ênfase quando dos lançamentos dos filmes de Polanski, voltou à baila com bastante estardalhaço por conta de O Oficial e o Espião (2019), longa baseado no infame Caso Dreyfus – um escândalo político causado por um erro judicial na França, que demorou mais de dez anos para ser resolvido. Exibido no Festival de Veneza, onde ganhou o Grande Prêmio do Júri, O Oficial e o Espião levou há pouco três prêmios César – a principal distinção do cinema francês: melhor figurino, roteiro e direção. Antecipando manifestações negativas, Polanski e sua equipe não compareceram à cerimônia na Salle Pleyel – e o teatro parisiense foi cercado na ocasião por feministas protestando, que foram contidas pela polícia. Todo esse barulho inevitavelmente vem impactando na recepção e repercussão do filme – que foi bem recebido pelo público francês na época da estreia e tem sido avaliado positivamente pela crítica de um modo geral. O Oficial e o Espião acompanha o rumoroso e penoso calvário enfrentado pelo capitão judeu Alfred Dreyfus (1859 – 1935), injustamente acusado de traição em 1894 e condenado em um julgamento espetacular fomentado por antissemitismo, má-fé, incompetência e covardia. Sempre alegando inocência, Dreyfus (Louis Garrel) é encarcerado na isolada Ilha do Diabo – e a trama de O Oficial e o Espião concentra-se então em outra figura peculiar: Georges Picquart (Jean Dujardin, em atuação extraordinária), coronel com uma promissora carreira no exército, de ideias confessadamente antissemitas e um dos acusadores do capitão. Quando assume mais tarde um posto de chefia na contraespionagem, Picquart topa com documentos secretos que lhe suscitam dúvidas quanto às provas que incriminaram Dreyfus – e, à medida em que avança na sua investigação própria sobre o caso, surpreende-se ao deparar com uma enorme armação grosseira e preconceituosa, que mantém encarcerado um homem inocente e deixa livre o verdadeiro traidor. Episódio que dividiu a França na época, insuflado pela discriminação aos judeus no exército […]

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