Artigos | Cinema

“Elvis” e o pacto mefistofélico do rock

Change Size Text
“Elvis” e o pacto mefistofélico do rock Warner/Divulgação

A mistura de glamour transbordante com uma profusão de referências pop é uma das características dos filmes dirigidos por Baz Luhrmann. Esse pendor para o excesso barroco pode resultar em uma instigante nova visão de um tema clássico, como em Romeo + Julieta (1996), ou em uma extravagância kitsch, caso de Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001). Na cinebiografia de Elvis Presley (1935 – 1977), em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (14/7), o realizador australiano tenta equilibrar seu estilo excessivo com uma abordagem dramática da história do “Rei do Rock” a partir da longa relação do artista com seu mefistofélico empresário.

A cinebiografia acompanha décadas da vida de Elvis (Austin Butler), da infância pobre no Mississipi ao final de carreira em Las Vegas como atração fixa patética de um hotel-cassino, passando pelo estrelato como maior nome do rock’n’roll. Uma trajetória marcada pela associação com o controlador “Coronel” Tom Parker (Tom Hanks), astucioso empresário de passado nebuloso que se aproxima de Elvis e acaba tornando-se seu mentor por mais de duas décadas, ficando com metade dos ganhos milionários do cantor e manipulando as escolhas artísticas de seu protegido. No meio de sua jornada, enquanto cumpre serviço militar no exército norte-americano na Alemanha, Elvis vai conhece e se apaixonar por Priscilla (Olivia DeJonge), jovem que se torna para o músico uma fonte de inspiração e com que vai se casar e ter uma filha.

Os primeiros 40 minutos de Elvis passam no ritmo vertiginoso típico de Luhrmann, decalcado de certos musicais da Broadway que se empenham em cativar o público na primeira parte da história com uma sucessão veloz de cenas, informações e estímulos sensoriais. O filme lança mão até de uma curiosa sequência de história em quadrinhos para ilustrar os sonhos do garoto Elvis. Há inclusive uma sequência visualmente envolvente, mas de um didatismo quase constrangedor, que “explica” como o futuro ídolo descobriu seu futuro estilo adaptado da música negra quando escutou ao mesmo tempo um guitarrista de rhythm and blues tocando em um boteco e um culto religioso com os fiéis cantando gospel em uma igreja ao lado.

Warner/Divulgação

Depois desse primeiro ato, no entanto, Elvis desacelera, abrindo espaço para a atuação convincente de Austin Butler – em especial nas performances extáticas do cantor, nas quais o diretor Luhrmann capta com exatidão o carisma do “Rei do Rock” e a empolgação que ele despertava sobretudo entre as fãs. Como no caso de filmes biográficos musicais recentes tipo Bohemian Rhapsody (2018) e Rocketman (2019), Butler também canta de verdade em cena, em particular na primeira fase do artista – nas cenas que se passam no fim da carreira do cantor, a voz do ator é misturada com gravações originais de Elvis.

Do ponto de vista dramático, Elvis ganha densidade com a ênfase na figura de Tom Parker, interpretado por um Tom Hanks engordado por maquiagem e próteses corporais. O personagem age como um Mefisto convencendo com sua lábia melíflua Elvis a vender sua alma em troca de fama e dinheiro, à maneira de um jovem Fausto. Premonitoriamente, a sequência em que o empresário e o cantor calouro selam seu pacto de parceria se passa em um parque de diversões com atrações bizarras – ambiente semelhante a Las Vegas com sua oferta de jogo e diversão vulgar, derradeiro destino de Elvis como uma espécie de freak em exposição permanente para um público ávido por consumir os últimos brilhos de um astro em ocaso.

Warner/Divulgação

Elvis: * * * * 

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Elvis:

PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?