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Karim Aïnouz visita origens argelinas em “Marinheiro das Montanhas” e “Nardjes A.”

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Karim Aïnouz visita origens argelinas em “Marinheiro das Montanhas” e “Nardjes A.” Karim Aïnouz. Foto de Bob Wolfenson/Divulgação

Um dos mais prestigiados cineastas brasileiros da atualidade, Karim Aïnouz estreia dois novos longas-metragens nesta quinta-feira (28/9). Após exibir Firebrand (2023) – seu primeiro filme em língua inglesa, com Jude Law e Alicia Vikander – na última edição do Festival de Cannes, o diretor exibe nos cinemas nacionais os documentários Marinheiro das Montanhas (2021) e Nardjes A. (2020).

“Esses filmes foram gestados em um mundo pré-pandêmico e foram concluídos durante a pandemia. Fico muito feliz de lançá-los agora nos cinemas porque terminaram sendo represados por conta disso. Também fico muito feliz com o lançamento conjunto neste momento em que estamos aos poucos processando o trauma e a distopia a que fomos submetidos durante o mandato da extrema-direita, porque os longas falam de utopia e da capacidade de sonhar mundos mais justos”, diz Aïnouz a respeito do duplo lançamento.

Considerado o projeto mais pessoal da carreira do realizador de filmes como Madame Satã (2002), O Céu de Suely (2006) e Praia do Futuro (2014), o ótimo Marinheiro das Montanhas integrou a programação de importantes festivais internacionais – incluindo uma aclamada passagem por Cannes em 2021. O documentário narra a jornada de Aïnouz pela Argélia, onde investiga a história do pai, um homem que só conheceu por fotografias, a fim de recuperar suas próprias origens.

Acervo de Karim Aïnouz/Reprodução

“É um filme íntimo, delicado e quase experimental”, diz Aïnouz, que está na fase final das filmagens de Motel Destino, no Ceará, e se prepara para rodar o seu segundo longa internacional, Rosebushpruning – que deverá contar com Kristen Stewart e Elle Fanning no elenco. Diário de viagem filmado na primeira ida do diretor cearense à Argélia natal de seu pai, Marinheiro das Montanhas costura registros gravados por ele durante essa jornada, filmagens caseiras, fotografias de família e arquivos históricos.

O resultado dessa costura de registros evoca Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo (2009) – belíssimo drama codirigido por Aïnouz e Marcelo Gomes –, entremeando a errática história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília, região montanhosa no norte da Argélia, e Fortaleza, cidade natal do cineasta e sua mãe, Iracema. Marinheiro das Montanhas entrelaça assim passado, presente e futuro em uma singular travessia.

Acervo de Karim Aïnouz/Reprodução

O documentário é todo narrado por Aïnouz, em forma de uma carta para a já falecida mãe – que ocupa o lugar de uma companheira imaginária de viagem. Enquanto relata e comenta episódios da jornada, o realizador-viajante reativa memórias familiares e revela os muitos sentimentos contraditórios que marcam seu percurso: do susto no desembarque – quando, pela primeira vez na vida, o diretor não precisou soletrar o nome – até a chegada na aldeia onde seu pai nasceu e foi criado.

“Com Marinheiro das Montanhas, eu quis correr o risco que a maturidade e a experiência me permitem. Antes de tudo, um risco artístico ao me distanciar do que sei, abrindo o projeto ao inesperado. O risco também de me ver enfrentando minhas origens”, reflete Aïnouz.

Acervo de Karim Aïnouz/Reprodução

Exibido no Festival de Berlim de 2020, Nardjes A. foi filmado com um smartphone justamente durante a pré-produção de Marinheiro das Montanhas, em uma viagem do diretor a Argel, capital do país africano. Nele, Aïnouz acompanha um dia na vida de uma ativista enquanto ela se junta aos milhares de manifestantes que vão às ruas para derrubar o regime que os silenciou ao longo de décadas.

“Eu queria que esse filme fosse ousado, alto, barulhento, rápido e voraz, como as manifestações que invadiram as ruas de Argel. Os protestos ressoaram para além da Argélia. Foi emocionante testemunhar aqueles eventos que vinham carregados de uma força e alegria contagiantes. A gente fala de uma geração que teve seu futuro roubado, mas ainda encontra na esperança um lugar fértil para imaginar o amanhã. Pensando no nosso mundo hoje, a Argel de 2019 está em todo lugar”, reflete o diretor, premiado na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes com A Vida Invisível (2019).

Gullane/Divulgação

Gullane/Divulgação

Marinheiro das Montanhas: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Marinheiro das Montanhas:

Nardjes A.: * * *

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Assista ao trailer de Nardjes A.:

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