Filipe Catto evoca Gal Costa em “Belezas São Coisas Acesas por Dentro”

“Beleza, poder, vida e vitória sobre os caretas.” Assim a cantora e compositora Filipe Catto define Gal Costa (1945-2022), a grande homenageada do seu mais recente álbum, Belezas São Coisas Acesas por Dentro.
Lançado em setembro pela Joia Moderna Discos, o trabalho reúne 10 faixas que percorrem diferentes fases da carreira de Gal, celebrando a trajetória musical de uma das maiores cantoras do Brasil. Em 14 de novembro, Catto apresenta o álbum em Porto Alegre, a partir das 23h, na Festa Tieta, no Bar Opinião. Informações sobre ingressos na Sympla.
Coprodução do artista Fabio Pinczowski, o disco surgiu como desdobramento do espetáculo Catto Canta Gal, tributo à diva baiana apresentado nos palcos do Sesc em São Paulo. Belezas São Coisas Acesas por Dentro materializa o show e reinventa canções clássicas e recentes do repertório de Gal, fazendo um mergulho profundo e eletrizante na obra da artista.
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Ainda imersa na energia das performances, Catto sentiu que o projeto deveria ir além dos palcos: “Sempre fui avessa à ideia de gravar um tributo, mas aquilo foi um chamado interior profundo demais para ser ignorado” – leia a entrevista a seguir.

Na visão de Catto, “Gal é um totem por si só. É muito conceito”. A cantora conta que sua vida foi permeada pelas canções de Gal, tanto pelo talento inigualável quanto por ser fonte de inspiração para artistas LGBTQIAP+, o que facilitou a escolha do repertório. A partir de uma mescla de canções emblemáticas e que representavam um valor sentimental para Catto, o álbum ganhou forma com versões de Lágrimas Negras, Tigresa, Joia / Oração da Mãe Menininha, Esotérico, Negro Amor, Sem Medo Nem Esperança, Vaca Profana, Nada Mais, Jabitacá e Vapor Barato.
Em Belezas São Coisas Acesas por Dentro, Catto é acompanhada por Michelle Abu (bateria), Fábio Pinczowski (guitarra e direção musical) e Gabriel Mayall (baixo), além de Ismael Caneppele e Cris Lisbôa, que assinam o roteiro do espetáculo com a artista.

O trabalho também chega como álbum visual, com clipes e um filme na íntegra que reúne todos os vídeos do disco. A “viagem visual” está disponível no YouTube e conta com direção artística de Maison Catto-Robin e produção de Gustavo Koch.
Na entrevista a seguir, a cantora comenta sua admiração por Gal e o processo de criação do álbum.
Belezas São Coisas Acesas por Dentro surgiu de um show em homenagem a Gal. O que motivou você a realizar esse tributo?
Filipe Catto – Foi inevitável, porque a energia do show foi tão brutal que me pareceu uma heresia deixar esse projeto passar assim. Rolou uma conexão muito forte com as músicas, com a plateia. Aí eu encontrei o Zé Pedro depois do show e ele me provocou a pensar sobre o assunto melhor. Eu sempre fui avessa à ideia de gravar um tributo, mas aquilo ali foi um chamado interior profundo demais para ser ignorado.
Você lembra das primeiras vezes que ouviu Gal? O que ela e as músicas de Gal representaram para você?
Filipe – Eu lembro da voz da Gal gritando “BRASIL” na minha infância, na abertura da novela Vale Tudo. Eu amava. A Gal estava sempre ali, no rádio, em casa, na novela. A Gal era a voz do Brasil, eu entendia que este lugar estava ali na música dela.

Como foi misturar a sua estética e a de Gal?
Filipe – A gente é libriana do mesmo dia, então foi muito natural mergulhar nessa piscina. A Gal sempre foi uma inspiração estética para mim. O desafio foi não cair em clichês e comer meio pelas beiradas porque a Gal é um totem por si só. É muito conceito. Fui pela via da contracultura da época dela, que me inspira muito pessoalmente. Como a Factory de Warhol, o Velvet, o The Doors, a imagem da Cher. Falar disso hoje é também falar da cena underground de São Paulo e das travestis do Presidenta. Aquela época tem muito a ver com a nossa, de certa forma.
Como se deu a escolha do repertório do álbum? O que as músicas de Gal evocam em você?
Filipe – Foi muito afetiva. Escolhi as músicas que estavam na minha boca como texto, que traduziam o que eu estava vivendo naquele momento. Porque a Gal sempre foi trilha da minha própria história, ela conta a minha vida e a de muitas pessoas como eu. A Gal era uma pessoa LGBTQIAP+, isso já coloca a gente num outro grau de intimidade. O roteiro do show foi escrito por mim com meus amigos amados Ismael Caneppele e Cris Lisbôa. Recortamos o repertório pensando nesse lado pessoal e também nas músicas que considerávamos mais emblemáticas na carreira da Gal. Pro disco, pincei as que gostei mais de interpretar ao vivo e que juntas sintetizavam a ideia do show.
Entre diversos versos, você escolheu “Belezas são coisas acesas por dentro” para dar nome ao trabalho. Qual o motivo da escolha?
Filipe – Intuição. Quando topei fazer o espetáculo, esse nome foi soprado na minha orelha. Acho que essa imagem traduz muito o que este projeto representa para mim.

Pode comentar um pouco sobre os videoclipes que você lançou?
Filipe – A gente fez um álbum visual com todas as músicas do disco, que já está disponível no meu canal de YouTube. Foi muito divertido. Adoro trabalhar com audiovisual e tenho uma equipe de amigos que adoram inventar as lombras comigo. A gente se diverte muito nessa parte da criação. Não consigo desvencilhar o que é música do que é imagem. As duas coisas são muito poderosas juntas. A ideia foi dar esse rolê pela noite de São Paulo e também criar atmosferas em estúdio numa experimentação baseada nos vídeos do Warhol. Tudo bem lo-fi, bem artesanal.
Por fim, como você define Gal Costa?
Filipe – Gal é beleza, poder, vida e vitória sobre os caretas.
terça-feira, 14 a 14 de novembro de 2023
Opinião (Rua José do Patrocínio, 834)