Juremir Machado da Silva

Chances de Ciro Gomes

Change Size Text
Chances de Ciro Gomes Foto: Murilo Silva / CAPOL/UFABC

Leitor me pergunta: por que não falei de Ciro Gomes na minha análise do cenário eleitoral de 2022? A resposta é nua e crua: porque as chances dele são remotas. Ciro é mau candidato? Não. É bom. Tem sólidos conhecimentos de economia, experiência política e administrativa, coragem e capacidade de expressão. Qual é o problema? Ele corre na mesma raia de Lula. Para tomar o lugar do petista num segundo turno precisa esperar algo semelhante à extinção dos dinossauros. Opa! Não estou chamando Lula de dinossauro. A imagem veio sozinha e não consegui impedi-la de tomar lugar na página. Já foi.

A opção de Ciro equivale a um cavalo de pau: aceitar a sedução do União Brasil e cair para a direita. Como fazer isso sem rasgar o programa e sem ter de engolir as suas críticas recorrentes ao campo neoliberal? Outro leitor, imaginário, questiona: se Lula pode se aliar com Geraldo Alckmin, por que Ciro não poderia se unir com outros conservadores? Sério isso? Lula atraiu Alckmin impondo as condições, dando as cartas, com uma justificativa palatável: uma frente, controlada por ele, contra o bolsonarismo. Ciro Gomes seria engolido pelo União Brasil, que é feito de uma costela do bolsonarismo. Ciro não poderia se justificar dizendo aceitar o sacrifício numa frente contra bolsonarismo e petismo? Poder, pode, mas será que cola? Não.

Quer dizer, dificilmente. Pela esquerda, o eleitor vai de Lula. Pela direita, de Bolsonaro. Pelo centro, não vai. E Ciro não veste o figuro do centro. Ele poderia dar um bom vice para Lula. Não vai rolar. Lula já definiu Alckmin como seu companheiro de chapa, com o que passa duas mensagens: na primeira, como na Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, diz aos conservadores que não é e não será radical. Ninguém precisará fugir para Miami. Na segunda, comunica ao seu pessoal que para chegar ao poder e governar é preciso conciliar.

Ciro Gomes poderia ser o homem certo. A hora é errada. Lula está no caminho. O que Lula tem dito com sua estratégia “getulista” (“não há amigos de quem não possa me separar nem inimigos de quem não possa me aproximar”): que o momento exige a superação de ressentimentos. Será que a base compra inteiramente essa ideia? Claro que não. Os ressentimentos entre petistas e Ciro Gomes parecem insuperáveis. Toda hora, alguém fala de Ciro “como aquele que fugiu pra Paris”. Não cicatrizou. Alckmin está sendo empurrado goela abaixo pelo simbolismo da aliança. Para tentar vencer, Ciro teria de perder parte do seu capital de críticas recentes. O preço é alto. Além disso, por essa outra via, encontraria um obstáculo no caminho: Jair Bolsonaro.

Se o jogo continuar assim, poderá ser esvaziado pelo voto útil em favor de Lula no primeiro turno, ainda que tudo indique definição em segundo turno. Claro que ainda tem muita água para correr por baixo dessa ponte, que nunca foi do futuro. O passado se infiltra nas armações mais ardilosas, como a que derrubou Dilma Rousseff, mas não quis mexer com Jair Bolsonaro. O fim está próximo. Ciro Gomes continua correndo. Para onde, José? A esperança é a última que morre.


Contato: [email protected]

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.