Alaíde Costa em seus 86 anos de caminhada
DISCO
O que Meus Calos Dizem Sobre Mim | Alaíde Costa
Pode-se dizer que O que Meus Calos Dizem Sobre Mim (Samba Rock Discos, oito faixas), álbum que Alaíde Costa lançou em meados de maio, é o primeiro trabalho da cantora e compositora carioca cujo repertório foi todo pensado especificamente para ela. Em alguma medida, o disco vale como uma espécie de biografia musical da artista carioca e de seus 86 anos de caminhada – quase todos eles dedicados à música. O trabalho tem direção musical de Pupillo, que também assina a produção, ao lado de produzido por Emicida e Marcus Preto.
Das oito canções gravadas, sete foram escritas especialmente para esse projeto, unindo compositores de diversas gerações. Joyce Moreno e Ivan Lins abrem parcerias com Emicida, enquanto o veterano Erasmo Carlos compõe sua primeira canção a quatro mãos com o jovem Tim Bernardes – músico 50 anos mais novo do que o Tremendão. Juntos, os irmãos Céu e Diogo Poças escrevem aquela que se tornaria a faixa de abertura do álbum. Canções inteiras, chegam de Fátima Guedes e Guilherme Arantes assinam letra e música de duas canções e João Bosco comparece com a única não inédita do álbum, Aos Meus Pés, com letra do filho Francisco Bosco. A essas sete junta-se Tristonho, melodia de Alaíde Costa letrada por Nando Reis que foi lançada como single em abril.
“Nossa ideia inicial era fazer um álbum que sublinhasse a grandeza de Alaíde Costa não apenas como intérprete ligada à bossa nova, movimento que surgiu para o Brasil ao mesmo tempo em que a própria artista no final da década de 1950. Mas, sobretudo, como a voz que transitou, quase sempre à margem do grande público, pelos mais nobres ambientes da nossa música popular”, explica o produtor Marcus Preto.
Alaíde é a única mulher na ficha técnica do clássico Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges. Compositora sofisticada, escreveu canções com Vinicius de Moraes e Geraldo Vandré, entre outros grandes. Interpretou como ninguém as obras de Hermínio Bello de Carvalho e Johnny Alf. Atravessou os anos 1980 lançando álbuns independentes, já que gravadoras queriam dela o que ela não queria dar – e fazer concessão nunca foi uma possibilidade para Alaíde. Pagou o preço de ver a repercussão de seus trabalhos minimizada – mas, em compensação, criou uma obra íntegra e autêntica, mesmo que limitada aos padrões modestos de artista independente em uma época cujo conceito de indie ainda nem existia.
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